UM CORDEL PARA MANOEL
O suor forte
Pisava o barro
Os pés grosseiros
Cortes e calos.
Rezava o terço
E dava esmola
Grande devoto
De Nossa Senhora.
Amava a terra
Tocava o gado
Nas mãos sementes
E o arado
Criava galinhas
Vendia os ovos
Não tinha nojo
Abraçava os porcos.
Dançava forró
Dançava baião
Moda sertaneja
grande peão.
A tardezinha
Em sua sacada
Contava causos
pra molecada
Cortava a palha
juntava o fumo
esfumaçava
um seu consumo.
Tocava viola
também sanfona
levantava poeira
Cortejava as damas
Ia pescar
em seu cavalo
trazia o bagre
e o robalo.
E na bacia
limpava os peixes
sal e limão
pro seu deleite.
(Ranquei espinha
Ô seus meninu
se achegue mais
que ta divinu)
Cantava moda
a luz da lua
E as três marias
Dizia ser sua.
Eu era menina
Mas bem me lembro
No seu quintal
Vivia correndo.
E hoje achei
Amarela carta
Nem dá pra ler
Apagou-se a data.
O remetente
Não mais existe
E de repente
Fiquei tão triste
Chegou a noite
Olhei pro céu
Não vi as marias...
Mas lembrei do Manoel!