Pela cor da pele
Pelo tom de minha pele
Foi traçado o meu destino
Mesmo que fosse um menino
Ao senhor eu pertencia
Tudo na casa eu fazia
E os castigos a mim imposto
Bravamente eu resistia
E pela cor da minha pele
À um senhor eu pertencia
Vivendo de qualquer jeito
Em terras desconhecidas
E curando as feridas
Aberta pela ganância
A fome é uma constância
Nos mocambos desregrados
Por feitores vigiados
De nada a vida valia
Pela cor de minha pele
Ao senhor eu pertencia.
O povo de minha terra
Forçado veio para cá
Em porões amontoados
As correntes a trincar
Separados pela sorte
A morte a nos rodear
E todos aqui sofreram
De nada a vida servia
Pelo tom de minha pele
À um senhor eu pertencia
O trabalho é exaustivo
Nessas terras invadidas
O castigo é doloroso
Ninguém dá valor a vida
Vivemos a própria sorte
Sempre lutando com a morte
De nada o negro valia
E pela cor de minha pele
À um senhor eu pertencia
Sobrevivi nas lavouras
Na senzala eu vivia
Mas no tronco eu sofria
Sobrevivendo a tortura
A vida sobre meus ombros
Até resistir nos quilombos
A ordem é viver com a morte
Zumbi e Dandara do norte
Foi tempo que padecia
É pela cor de minha pele
À um senhor eu pertencia
A resistência crescia
Comunidades emergia
Inconformados generais
Invadiram o Palmares
Diante da intransigência
Que resta da consciência
Que a cor da minha pele
Não é símbolo de submissão
Nem identidade inferior
Mas sinônimo de verdade
Com garra de vencedor
E os filhos que nos levaram
Separaram a nossa cria
Que pela cor de minha pele
À um senhor eu pertencia.