Pela cor da pele

Pelo tom de minha pele

Foi traçado o meu destino

Mesmo que fosse um menino

Ao senhor eu pertencia

Tudo na casa eu fazia

E os castigos a mim imposto

Bravamente eu resistia

E pela cor da minha pele

À um senhor eu pertencia

Vivendo de qualquer jeito

Em terras desconhecidas

E curando as feridas

Aberta pela ganância

A fome é uma constância

Nos mocambos desregrados

Por feitores vigiados

De nada a vida valia

Pela cor de minha pele

Ao senhor eu pertencia.

O povo de minha terra

Forçado veio para cá

Em porões amontoados

As correntes a trincar

Separados pela sorte

A morte a nos rodear

E todos aqui sofreram

De nada a vida servia

Pelo tom de minha pele

À um senhor eu pertencia

O trabalho é exaustivo

Nessas terras invadidas

O castigo é doloroso

Ninguém dá valor a vida

Vivemos a própria sorte

Sempre lutando com a morte

De nada o negro valia

E pela cor de minha pele

À um senhor eu pertencia

Sobrevivi nas lavouras

Na senzala eu vivia

Mas no tronco eu sofria

Sobrevivendo a tortura

A vida sobre meus ombros

Até resistir nos quilombos

A ordem é viver com a morte

Zumbi e Dandara do norte

Foi tempo que padecia

É pela cor de minha pele

À um senhor eu pertencia

A resistência crescia

Comunidades emergia

Inconformados generais

Invadiram o Palmares

Diante da intransigência

Que resta da consciência

Que a cor da minha pele

Não é símbolo de submissão

Nem identidade inferior

Mas sinônimo de verdade

Com garra de vencedor

E os filhos que nos levaram

Separaram a nossa cria

Que pela cor de minha pele

À um senhor eu pertencia.

Batista N Silva e Luís Silva
Enviado por Batista N Silva em 05/02/2020
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