MEU CHÃO

Por Gecílio Souza

Hoje resolvi falar

Das coisas do meu sertão

A tinta uniu-se ao papel

Contraste em combinação

Literário matrimônio

É válida a comparação

Deram vigor ao cordel

Em poética expressão

Algo igual nunca se viu

Veja só o que saiu

Desta justaposição

Aqui no meu lugarejo

Não vivo de fantasia

As árvores e os animais

Me servem de companhia

A chuva me acalenta

Mas a seca me judia

A lua ilumina a noite

O sol ilumina o dia

A mais dura escravidão

É o cativeiro da escuridão

Da falta de sabedoria

O ritmo do meu lugar

Só entende quem conhece

Quem pisar no meu torrão

Garanto que não esquece

Aqui há água que hidrata

Também o sol que aquece

O calor que vem do chão

Encontra a água que desce

E não julgue o meu estilo

Tendo como base aquilo

Que o teu ritmo estabelece

E aqui no meu sertão

Há tudo o que se procura

Feijão, arroz e mandioca

Milho, cana e rapadura

Encontra-se qualquer item

Que sai da agricultura

Com a “mão” da natureza

É abundância e fartura

Esta terra é muito boa

O que sobra a gente doa

Aos carentes sem usura

O cerrado é generoso

Se duvida venha cá

Comer coco e pequi

Araticum e jatobá

Cagaita e capa-rosa

Grão de galo e puçá

Mama-cadela e caju

Ananás e araçá

De frutas você se farta

Há melancia da prata

Xique-xique e gravatá

As riquezas do meu chão

São genuínas daqui

Mangaba e coco tucum

Cereja e bacupari

Pêra do campo e baru

São Caetano e murici

Canapu e genipapo

Barbatimão e tingui

O maracujá do gerais

Tamburil e outros mais

Sucupira e Buriti

Tem ipê e copaíba

Muçambé e aroeira

Vinhático e mama-porca

Jacarandá e moreira

Veludo e açoita-cavalo

Pau-ferro e cajazeira

Quina e unha danta

Farinha-seca e pereira

Pau-terra e São João

Canafístula e Malvão

Tiborna e gameleira

Minha casa e meu mundo

Têm o timbre do sertão

Barulho é só o da chuva

Ronco é só o do trovão

Refrigerador é o vento

Aquecedor é o fogão

Despertador é o galo

Cronômetro é o corujão

Minha coberta é de orelha

Eis aí uma centelha

Da riqueza do meu chão.

G. S.

Oiliceg
Enviado por Oiliceg em 03/02/2020
Reeditado em 03/02/2020
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