Cordel da Liberdade
Mirabela era fia de povo trabaiador,
minina boa, alegre e destemida;
filiz e nova não conhecia o amor;
era iguar a flor sua beleza...
Simples e cativante, bela por dentro
e por fora, tudo ia muito bem,
até ela conhecer o Donato,
apaixonô a pobre;
Largô a escrivinhar poesias tristes
porque não podia falar,
sofreu a infeliz;
Donato nem ligô, nada de oiar a moça;
Moço cupado dimais em ser dotô,
ele só queria estudar;
As oiadas que ela dava era de cortar coração,
Oios tristes, sonhadores;
Oios de amor por Donato, triste amor...
Até que o moço estudado, de mãos finas e elegante,
foi embora pra não mais vortar e a moça ficou a
chorar;
Mirabela doce flor,
sua beleza e dor se tornou poesias,
canções de um coração apaixonado;
Anos passaram, a minina cresceu e também estudô;
Formou pra fessora, inteligente e dedicada;
O Donato sumiu do coração depois de muita
inspiração, deu lugar pro Josiel, moço aprumado,
muito educado;
A moça viu estrelhas, viu foguetes e luzes,
toda enamorada otra vez, mas o rapaiz muito bonito
tinha o coração duro; umilhou a pobre moça fia de
povo trabaiador, isqueceu que ela era flor;
Insensível ele despedaçou teu coração ;
As poesias que ela fez ele julgou declaração pra ele,
muito cheio de prosa nem lembrô de perguntar...
Nem deixô ela expricá que ela era poesia;
As poesias de Mirabela escrivinhadas com lágrimas
nos oios falam da alma de uma poeta;
O poeta é sofredor nesse mundão afora, ele é leitor
de emoções, sonhador aluado;
Tempo passô, ela mudou e lá no sertão ela insina
a lição ás mininas: Amor próprio;
Mió coisa não há do que liberdade, caras pequenas!
As mininas aprendem rápido a lição!
A Fessora animada ensina tudo com amor e o moço
Josiel ficou perdido no baú das velhas lembranças;
Lá na sala de aula as mininas ainda arriscam,
perguntam por casamento;
Mirabela responde de bom humor: Oxente eu tô lá
muito boa, saúde e pressão excelente!
Casar é pra quem gosta de esquentar miolos, sofrer
e amargurar, eu gosto de ser livre...
No coração de Mirabela ainda há amor mas é amor
mais profundo e intenso...
Pessoas grandes, cheias de soberba não enxergam
o sentido da vida, não conseguem ler versos que
vão na alma...