A CORRIDA DO TEMPO
Por Gecílio Souza
01. Meu caro amigo leitor
Um abraço vim lhe dar
O tempo passa depressa
E temos que aproveitar
Quem perde tempo não vive
Se ocupa a desperdiçar
O pouco tempo que resta
Não consegue calcular
Tudo vai diminuindo
O tempo está engolindo
E a vida irá passar
02. No tempo irei trabalhar
Divertir e fazer aceno
Contar os melhores tempos
Do tempo que foi pequeno
Quem perde tempo demais
Murcha e seca como o feno
O tempo às vezes é remédio
Pode também ser veneno
Às vezes cura a ferida
Ou enche de dor a vida
O tempo é sol e sereno
03. O tempo tem poder pleno
E engole sem preconceito
A ele não interessa
Ter menos ou mais direito
Somente os tempos verbais
Tornam o idioma aceito
Mas na vida há só um tempo
Quem dele tira proveito
Pode esquecer o passado
Que o tempo desperdiçado
Recuperar não tem jeito
04. O tempo se fez bem feito
Por isto jamais falhou
Como um carro que não pára
O tempo nunca parou
Tem muita gente que passa
Sem ver que o tempo passou
O tempo que o tempo lhe deu
Ao próprio tempo jogou
Mas quem muito tempo perde
Quer mais tempo e nunca mede
O tempo que disperdiçou
05. Quem no tempo se enterrou
Virou peça de museu
Jogou tanto tempo fora
De viver se esqueceu
Mas o próprio tempo é vida
Que o pródigo não entendeu
Esbanjou o tempo em nada
Não semeou nem colheu
A vida é o tempo avançando
O tempo é a vida terminando
Do tempo que se perdeu
06. O tempo sempre venceu
Quem quis lhe desafiar
Abusa do próprio tempo
Para sem tempo ficar
No final pede mais tempo
Para do tempo abusar
Mas o tempo não repõe
O tempo que vai faltar
É um caminho sem volta
O tempo também se esgota
Avança até se esgotar
07. Há o tempo de brincar
De sonhar e de correr
Há o tempo do coração
De amar e de sofrer
Há o tempo da solidão
De quem pode escolher
Há o tempo do plantio
E o tempo de colher
Há o tempo de sorrir
De dançar e distrair
Há o tempo de morrer
08. O tempo que se perder
Com fugaz insensatez
É pérola jogada fora
No labirinto do xadrez
O tempo não se repete
Nem se gasta de uma vez
Quando se aproveita o tempo
No sonho ou na embriaguez
O próprio tempo concede
Que a vida nele se hospede
Com prazer e altivez
09. Até numa gravidez
O tempo é eficiente
O futuro e o passado
Não existem filosoficamente
Um já foi e outro não veio
Eles são ilusõs da mente
O tempo é o aqui e agora
Portanto ele é o presente
O passado é só memória
E o futuro é outra história
É a expectativa da gente
10. O tempo é intransigente
E jamais faz concessões
A sua espada dilacera
Os corpos e os corações
Embranquece os cabelos
E revoga as aptidões
Toma de volta o vigor
Dos potentes valentões
O tempo fixa a sentença
Contra ele não há crença
Nem tolas religiões
11. O tempo e suas estações
Entenda-se cronologia
Ele possui duas faces
Uma é noite outra é dia
Numa face o tempo esquenta
E na outra o tempo esfria
Há o tempo da tempestade
Há o tempo da calmaria
Já que o tempo é ordinário
Hoje no meu calendário
É tempo de letra e poesia
12. O tempo é soberania
Total é o seu comando
Mas percebê-lo depende
Da vida que está levando
No prazer ele passa rápido
Na dor passa demorando
Porém o tempo do tempo
É o mesmo desde quando
Existem matéria e massa
Há muita gente que passa
Sem ver o tempo passando
13. O tempo vai se compondo
Segundo, minuto e hora
Ele é rígido e pontual
Não se apressa nem demora
Mas transcorre indiferente
A quem sorri ou quem chora
É o tempo que vê a vida
Chegando e indo embora
Ele é lesgislador e juiz
Não tem pena do infeliz
Que atira o tempo fora
14. O tempo é o aqui e agora
Com a sua perenidade
Não é divisível por três
Tampouco pela metade
Ele é o presente unitário
Atribuem-lhe qualidade
Tempo bom ou tempo ruim
É juízo de moralidade
O tempo não tem humor
É um monstro devorador
Da própria temporalidade
15. O tempo decreta a idade
Da temporal existência
Há o tempo de florescer
Há o tempo da decadência
Há o tempo da lucidez
Há o tempo da demência
Porque perante o tempo
Nada possui permanência
O tempo não poupa ninguém
Aproveite o pouco que tem
A vida pede urgência.