O idoso é um jovem que deu certo

ao idoso eu dedico esse cordel

com respeito e um pouco de humor

ao idoso nós devemos proteger

dando a paz, o sossego e o amor

o idoso batalhou por muitos anos

foi valente esse heroi dos desenganos

enfrentou todo tipo de mazela

nessa vida tem sofrido um bocado

quantas vezes se achou desempregado

passou fome, comeu pão com mortadela

o idoso esse velho renitente

ainda ontem me contava sua façanha

quando esteve na campanha da Itália

atirando contra as tropas da Alemanha

o idoso assistiu numa sexta-feira

a chegada da primeira geladeira

no sertão, funcionada a querosene

abriu pico de estrada, fez barragem

nos trabalhos que enfrentavam a estiagem

comandados pelo órgão da sudene

eita velho de energia e de coragem

conheceu o primeiro picolé

viu o rádio funcionando num domingo

retratando as proezas de Pelé

achou graça nos programas de auditório

na TV de Tarcísio do Cartório

a primeira do sertão empoeirado

no sertão da Boa Vista caçou ema

também viu na Serra da Borborema

cangaceiros se danando no xaxado

é por isso que eu respeito o idoso

eu confesso, ao idoso eu quero bem

se perguntam o preço de uma coisa

ele fala que custou tantos vintém

de bengala, chinelão, chapéu de massa

passa um tempo em um banco lá da praça

aguardando a chegada do almoço

seu olhar focaliza assim de lado

num instante dá uma volta no passado

e se lembra do seu tempo quando moço

o idoso é um jovem que deu certo

o idoso é um jovem que acertou

teve um dia, com o dinheiro da emergência

foi pra feira, namorou e farreou

o idoso escapou de chumbo grosso

de cobreiro, brotoeja e mal do osso

de sarampo e de queda de jumento

hoje peida e balança na cadeira

bem debaixo da sombra da mangueira

esperando o dinheiro do aposento.

um forte abraço, meus bons velhinhos!