Hipocrisia Nacional.

Bernardo Sebastião, jovem cidadão, que estava de saco cheio da corrupção. Nasceu numa cidadezinha pequena, e viu de perto como o poder envenena. Desde cedo trabalhava e estudava, logo a mente era algo que exercitava, e um futuro melhor começou a imaginar.

“Menino esperto” , dizia sua avó, “se não se meter com a bandidagem pode até virar homi bão.” E virou.

De tanto se estressar com corrupção, foi direto procurar uma solução. Estudou para virar professor, certo de que sua história um dia teria valor.

Patriota como ninguém. Lia de Machado de Assis a Paulo Coelho. Ouvia de Tom Jobim a Gabriel Pensador. Assistia de Glauber Rocha a José Padilha. Na escola cantava o hino como ninguém. Chegou até a chorar quando o exército o dispensou.

Em sua vida lecionando viu que os alunos não estavam nem o respeitando. Cansando de injustiça e desrespeito, tomou uma iniciativa e foi falar com prefeito.

Senhor Afonso, corrupto por natureza, não deu atenção as palavras de Bernardo. Falou que professor ganhava bem, e ele devia agradecer a Deus por ter chance de ser um subordinado. De lá Bernardo saiu decepcionado, descrente de um futuro melhor, e de uma vida sem significado.

Um tempo depois participava de passeata. De tanto organizar manifestações, se tornou um gerador de opiniões. Logo se tornou conhecido, aliado do povo, inimigo do político. Fica em cima de qualquer esquema mediano, de qualquer sujeira por debaixo dos panos. E assim sua popularidade cresceu, e um partido político uma chance o ofereceu.

Cativa o povo em seus discursos, sua simpatia se tornava alegria, que as vezes gerava harmonia. Fácil fácil se tornou vereador, e uma promessa de governo melhor fez ao nosso Senhor.

Em seu primeiro ano de mandato, dor de cabeça era o que não faltava. Tentava fazer algo bom, mas seus colegas só o desprezavam. Foi levando como podia, sorrindo e mantendo a esperança e a simpatia.

Já em seu segundo ano, os vereadores fizeram um esquema para faturar em cima de uma escola, Bernardo já de antemão ficou espantado. Aos poucos foi cedendo, foi se sujando. E no seu terceiro ano de mandato já era farinha do mesmo saco. Amigo do prefeito se tornou, inimizade com os militares e o povo ganhou.

Perdeu seu senso de justiça e em função de uma nova vida. Mais fácil, mais calma, mais suja. Mais favorável, mais lucrativa, mais corrupta.

Bernardo Sebastião, jovem cidadão, que sonhava em cuspir na cara da corrupção, morreu de hipocrisia.

Bernardo Sebastião, vereador corrupto por opção, nasceu da covardia.

“Menino esperto” , dizia sua avó, “se não se meter com a bandidagem pode até virar homi bão.” E virou e não virou. Bandido experiente, roubando dinheiro das massas, e mentindo na cara dura. E assim o homem cedeu mais uma vez à ganancia e à amargura.

Diego José da Silva
Enviado por Diego José da Silva em 18/01/2020
Código do texto: T6844498
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