ASSÉDIO
Voejando veio o verso
Se insinuando para mim,
Mas como eu pouco converso
Dei-lhe um tiro de festim,
Foi parar noutro universo
Onde mora o querubim.
Não sou poeta ora essa
E não tenho compaixão,
Esse assédio só me estressa...
Não tolero muito não,
Mas ele vem e confessa
Por mim a sua paixão.
Toda noite é uma agonia;
Não consigo mais dormir,
Ele vem me acaricia
E diz que não vai sair,
Já parece uma fobia
Esse eterno persuadir.
Disfarço tudo o que posso
Para ver se ele se toca,
Às vezes até engrosso:
-Volta lá pra sua maloca.
Depois eu rezo um pai nosso
Senão chumbo a gente troca.
É do tipo pegajoso
E tem lá sua artimanha;
Me chama de preguiçoso
E com isso ele me ganha,
Não quer me ver ocioso
Então faço uma barganha:
Deixo ele fazer parte
Desde que seja em cordel,
E que ele entre com a arte
Que eu entro com o papel,
Antes mesmo que eu enfarte
E que vá acordar no céu.