CORDEL DO AMOR QUE SE FOI - ESCUSÁVEL

- Quarta Parte

CORDEL DO AMOR QUE SE FOI - Quarta parte

ESCUSÁVEL

Coisa horrivelmente chata

Essas lamúrias de tonto!...

Penso ter chegado ao ponto

De não ver quão insensata

A memória quase ingrata

Que te faço no que conto

Tanto que a língua desata.

Melhor te pedir escusas

E me afastar com meus ais

Certo de que amor demais

Evoca sombrias musas

Entre memórias confusas

Dos sonhos tornados reais

Até topar com recusas...

Perdoa estes ais; perdoa

Esta insistência infeliz;

Este extremado cariz

De exagerada pessoa...

Perdoa a enfadonha loa

Que nem condigo condiz

Nem agradável ressoa.

Perdoa-me a cantilena

Que se arrasta aos teus ouvidos...

Considera-os qual gemidos

D’uma alma que antes serena

Mais se agita e s’envenena

Face aos beijos já perdidos

Em tua mirada amena.

Considera-os desatinos

D’uma alma tão perturbada,

Que uma vez desembargada

Fica a especular destinos

Onde amores vespertinos

Tidos por fava contada

Tornem em sonhos ladinos.

Considera-os, entretanto,

Amores, que amores são!

Acolhe a minha ilusão

E mesmo o ardor com que canto

Como desabrido encanto

Que redescobre a paixão

Entre sorrisos e pranto.

Eu assim cuido que sigo

Sem perturbar-te o momento

Com meu audaz sentimento

Buscando em teu colo abrigo.

Tudo o que quero contigo

É levar-te como alento

Do mais doce amor comigo.

Sim, porque o amor que se foi

É o que sempre será...

Sim, este é aquele que há-

De me aquecer com um “oi!”...

Sim, feito aboio de boi

Que me ecoando lá e cá

Tangesse o peito que dói.

Sim, porque este amor passado

Sempre se te faz presente.

Mesmo que estejas ausente

Sempre te sinto ao meu lado.

E sim, porque enamorado

Eu sempre te tenho em mente:

Amor no peito guardado...

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