COMÍCIO NO INTERIOR

Naquele palanque armado

em frente ao cabaré

Na zona do meretrício,

Onde só tinha a ralé

E o putal de plantão,

Discursou o Coroné

Carlito Antônio de Paiva!

Com todo seu vaticínio

E impostação de voz...

Com todo seu fascínio

Falando aquela plateia

Pensando no escrutínio

No voto daquelas primas

para mudar a seu favor

O destino daquela eleição.

Não tinha voz de cantor

Mas, sorria com simpatia,

Isto agradava ao eleitor

Que tem o politiqueiro

Para enganar essa gente

Com seu discurso inflamado

Como se fosse um repente

Um verso de embolador

Para um povo indigente!

Era o Candidato a prefeito

Representando o partido

E os políticos locais,

Estava até constrangido

Com a localização

Do poleiro ali erguido...

No meio do quengaral

Da famosa Boite Luar

O maior coito de puta

Que tinha aquele lugar

E não aparecera um santo

Para vir lhe avisar

Do mais impróprio lugar

Para se fazer um comício

Para erguer uma tribuna

E exercer o seu ofício

De candidato a prefeito

Na zona do meretrício

Era coisa de inimigo

E sua derrota eleitoral

Era subir no patíbulo

Com sua cara de pau

Sorrir sorriso de puta

Com beijos ao quengaral.

Um fio de luz iluminava

Mal através da gambiarra

O que seria a tribuna

Para toda aquela fanfarra

De comício do interior,

Onde seria a grande farra.

Demagogos discursando

Em meio a gritos de "viva"

Aplausos de puxa-sacos

Aos que gastavam saliva

Por enganarem o povo

E toda a sua comitiva

Prometendo mundos e fundos

Às quengas ali presentes,

Aos pobres da periferia

A todos os descontentes

Com os ladrões do poder,

E todos seus dissidentes.

Charanga fazendo zoada

Com uma dúzia de ritmistas

Animando aquele comício

A mostrar que os sambistas,

Chamavam mais atenção

Que os políticos anarquistas

E sua fala mentirosa

De promessas e projetos

Em prol dos descamisados

Dos eleitores sem tetos

E sem um pão pra comer.

Dos pobres analfabetos

Que tem o direito a voto,

E a trocá-lo por tijolo

Telha, vestuário e pneu

Cometendo o grande dolo

Que se possa imaginar;

Que vender voto dá rolo!

- Muito bem, doutor!

Disse um sujeito babão

Ao ouvir seu candidato

Que disse do coração,

A quem prometeu votar,

Ele, a mulher e um irmão,

Em troca de uns favores

E material de construção

Pra construir um casebre

À custa da eleição

Do Coronel Raimundo Paiva

E o voto de sujeição.

Este lhe prometeu cal

Cimento, tijolo e brita

E até a mão-de-obra

Pra sua casa bendita

Em troca da consciência

Da neguinha Benedita.

- Boa noite, distinto e nobre

Raparigal da minha terra!

Disse o coroné na saudação

À mulherada de guerra

Vestida com pouca roupa,

(que bom cabrito não berra!)

Foi aplaudido de pé

Pela estranha multidão

De bêbados e prostitutas

Numa grande ovação

Que movidos pelo álcool

Aplaudiam até discussão.

No comício do puteiro

Como ficou conhecida

Aquela aglomeração

Não houve uma briga

Ou entrevero qualquer

Nada de mal que se diga

E só no dia seguinte

A coisa virou notícia

Criando uma situação

De ardilosa malícia

Com a oposição irada,

daquela sem-vergonhice

Que se deu na democracia

Onde até no cabaré

Político vai buscar voto

Lá tem eleitora de fé

E declara de peito aberto

E ainda aplaude de pé

E a oposição caiu de quatro

Com sua crítica maldosa

Discriminando as minorias

Usando de forma sebosa

Segundo veados e gays

Uma posição perigosa

Na Câmara e no senado

Assembleias e municipais

Quengas, veados e gays

São tratados como iguais

E são cidadãos na lei

Merecem estar nos anais

Com livre acesso à política

Aos benefícios e inclusão

Em projetos sociais.

Por isto foi que a oposição

Enfiou a viola no saco

Mas, não sem reclamação

E Denunciou o partido

De tentar se aproveitar

Do voto certo das putas

Buscando se beneficiar

À custa da safadeza

e do crime de comprar

A consciência das damas

Que se vendem no amor

Que se entregam por dinheiro

Que não negam a seu senhor

Um voto ou coisa qualquer

Ainda mais sendo eleitor!

A polícia e cabos eleitorais

Armaram o maior fuzuê

Na troca de palavrão

E ninguém para prender

Foi um zum zum zum só

Mas ninguém foi se render

A ordem do juizado era clara

Evitar tumulto e desordem

Pelas ruas da cidade

que movimentos não podem

desarticular a paz,

se não cuidar, explodem!

No dia da eleição

a cidade em movimento

com veículos circulando

Montaria de jumento

tumulto em seções eleitorais

políticos no seu momento.

Na eleição tinha voto

desde o João analfabeto

que bota o dedo na tinta

e não sabe o que é certo

tampouco o que é errado

com o seu voto incompleto.

E o sujeito encabrestado

preso pelos pés pelas mãos

refém de favores e dívidas

votava por sujeição

fosse qualquer benefício

votava em retribuição!

Naquele tempo de cédulas

quem estava no cemitério

alma penada ou defunto

votava com todo mistério

das fraudes eleitorais

um pleito que não é sério.

Ganhou o político do sorriso

que fodeu seus eleitores

comemorando no cabaré

na cama da quenga dolores

bebendo Whisky 12 anos

para amenizar suas dores

Cuidaria daquela dama

desfrutando dos prazeres

que ela poderia lhe dar

e unindo seus afazeres

à sua vontade de comer

certamente teria poderes.