O ENGODO DO NATAL

Por Gecílio Souza

Que o mundo é dos espertos

É uma fatídica certeza

Porém me causa espécie

Tão ousada esperteza

Repetida anualmente

Travestida de singeleza

É a histeria natalina

Para sublimar a aspereza

De um modelo econômico

Anti-ético e catatônico

Omisso da própria fraqueza

Institui-se belos adágios

Legitimadores da pobreza

De janeiro a novembro

Predomina a avareza

De repente o consumismo

Orna-se da santa pureza

Cristianizou-se o dinheiro

Beatificou-se a riqueza

Avolumam-se os lucros

Dos espíritos vis e xucros

Que agem na sutileza

Vinte e cinco de dezembro

Bane-se a palavra “tristeza”.

O ocidente cristão

Promove a maior beleza

Guerras não existem mais

O mundo é uma delicadeza

Crianças e idosos sem lar

Não há mais na redondeza

Gente em situação de rua

Não há aqui nem na lua

É quimera da natureza

Favelas e outros biombos

Foram extintos pela alteza

Sem terra, teto e comida

Deixaram de sê-los na moleza

Mendicância e analfabetismo

Se existem é em Veneza

É a impressão que nos passa

Essa falsa gentileza

Saibam todos que o Natal

É um truque comercial

Que ofende a natureza

É um dos entorpecentes

Que a sacra cristã torpeza

Injeta na veia das massas

Com mitigada rudeza

Hipócrita religião

Ou religiosa baixeza

Seu pseudo-altruísmo

Neutraliza a destreza

Dos descalços e sem camisa

Que nunca saem na pesquisa

E atrapalham a limpeza

Abençoa a quem consome

E consumidor sem clareza

Vê o milagre no comércio

Não enxerga a malvadeza

O mar das mercadorias

Lhe afoga na correnteza

Se agarra nos bens sagrados

Buscando alguma firmeza

Religiões capitalistas

Mentirosas e oportunistas

Sacralizam a safadeza

Com citações decoradas

E nenhuma profundeza

Gigolôs de vestes “santas”

Afirmam fazer proeza

Milagres e outras façanhas

Têm a síndrome da grandeza

Se lambuzam da matéria

E expõem sua pequeneza

É Natal, mas que bonito

Falta apenas Jesus Cristo

Que reprova tal baixeza

Os festejos natalinos

Vamos falar com franqueza

São truques arquitetados

Com cuidado e com frieza

Para explorara a boa fé

Da coletiva tibieza

Nesta época o dinheiro

Comprova a sua realeza

Altruísmo de aparência

Descarrego de consciência

Siririca da nobreza

G. S.

Oiliceg
Enviado por Oiliceg em 26/12/2019
Reeditado em 26/12/2019
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