A mentira do papai Noel

Sempre que chega o natal me recordo da infância

Do meu tempo de criança, do tempo da meninice

Tempo em que pequenas coisas tinham muita importância

Tempo dos sonhos encantados do mundo da criancice

Em que vivemos n’uma bolha cheia de ingenuidade

Onde os adultos nos enganam com muita facilidade

Recordo das histórias que mamãe lia em cordel

Das cantigas de ninar dos costumes tradicionais

Das festas religiosas, dos reluzentes natais

Lembro do velho barbudo chamado papai Noel

Sempre me falaram bem, desse tal papai Noel

Diziam que ele tinha um saco de presentes,

Que era um velhinho tão bondoso e fiel

Que deixava as crianças felizes e contentes

Só precisava o guri(a) fazer o seu pedido

Que na noite de natal prontamente era atendido

E não é que nessa conversa inocentemente acreditei!

Pedi com convicção minha bicicleta sonhada

E fui dormir empolgado e já pela madrugada

Procurei abaixo da rede e nada lá encontrei.

Levantei pela manhã bastante aborrecido

E avistei no terreiro o filho do nosso vizinho

Que estava brincando muito envaidecido

Ostentando com pompas, pois era “metidinho”

Com a dita bicicleta que eu tinha sonhado

Fazendo igualzinho ao Kiko, daquele seriado.

E eu igual ao Chaves, fiquei ali me perguntando

Por que o papai Noel só dá pra quem já tem?

Pra quem tem o que quer e vive superbem?

Por que não dá pra'queles que vive só sonhando?

Fiquei parado a tirar, minhas próprias conclusões.

E cheguei a deduzir que esse tal de papai Noel

Só entra nas casas que têm caros carrões

Não visita as criancinhas que moram de aluguel,

Que nunca tiveram ceia com peru e panetone

Que não conhecem o sabor de um simples danone

São crianças desprezíveis fadadas à exclusão

Excluídas pelos seres que se dizem semelhantes

Com equidades anatômicas e com valores discrepantes

Mesmo assim me conformei e acalmei meu coração

Daí pra cá me desencanei dessa história de natal

Dessas árvores de Tamuz com luzes de pisca-piscas

Enquanto uns necessitam de um abraço fraternal

Outros se deleitam em banquetes de pizzas pantiscas

Às vezes usam recurso desviado até do SUS

Pra comemorar a ceia do nascimento de Jesus

E assim são as boas festas e todos tiram o chapéu

Chega de hipocrisia pois prefiro a verdade

Hoje tenho o melhor presente que é a liberdade

Para que o papai Noel, se já tenho o Papai do Céu?

Lúcio Barros
Enviado por Lúcio Barros em 25/12/2019
Reeditado em 28/12/2019
Código do texto: T6826722
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