CORDEL DO AMOR QUE SE FOI - ENTREOLHARES

CORDEL DO AMOR QUE SE FOI - Primeira Parte

ENTREOLHARES

-- "Espera... Guarda contigo

As águas dos olhos meus

N'um último olhar de adeus

Um olhar d'amante e amigo

Onde encontrarás abrigo

Ao molhar os olhos teus

Pelo que olhaste comigo".

"Se por ventura lembrares

Dos meus olhos a te olhar

Me haverás-de recordar

D'outros tempos e lugares

Entre longos entreolhares

Quando ousávamos sonhar

A despeito dos azares..."

"Foram noites; foram dias,

Acalentando prazeres

Em extremados quereres...

Em lânguidas agonias...

Gozaste-me as ousadias

Sempre com plenos poderes

Sobre as minhas fantasias!..."

"Tu me amaste co'a urgência

Com que se amam os famintos

Já toda entregue aos instintos

Que dominam a consciência...

Onde o desejo e a violência

Se apresentam indistintos

Entre imanência e existência!"

"Desde os ombros devassados,

Os prazeres prometidos

Na carne nua aos sentidos

Pela língua degustados...

À flor da pele mostrados

Para meus olhos perdidos

Hão-de ser sempre lembrados."

"Tive fome de teus lábios;

Tive sede de teus beijos.

Tanto quis n'esses lampejos,

Que meus olhos menos sábios

Sem bússolas ou astrolábios

Perdi n'um mar de desejos,

Que hoje me são só ressábios...:

"Este olhar de despedida

Que acontece ora entre nós

Súbito m'embarga a voz

N'uma emoção tão sentida,

Que levo por toda a vida.

E o que quer que venha após

Não muda quanto és querida."

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