Feira ecológica da UFPB: um centro de humanidades
Entabulo um ritual
Quando chega a sexta-feira
Acordando às cinco horas
Boto água na chaleira
Depois de tomar o chá
Vou para a festa brejeira,
A ecológica feira
Lá no Centro de Vivências
Campus UFPB
Respirando as essências
Os eflúvios campesinos
As humanas ingerências.
Começando as envolvências
No banco da tapioca
Com Tina e Luizinho
Vendendo bolo e paçoca
Suco verde e graviola
O milho assado e pipoca.
Meu caminho desemboca
No banco de Gabriel
O artista aboiador
Vendendo sarapatel
Galinha de capoeira
Pimenta, limão e mel.
Esse grande menestrel
Do tradicional aboio
Tem até CD gravado
Mas não encontra apoio
Nessa indústria cultural
Mesclando trigo com joio.
Na água boa do arroio
Dessa campesina feira
Eu lavo a alma silvestre
Fincando a eterna bandeira
Da reforma fundiária
Nesta nação brasileira.
Lutando nessa trincheira
Tem poeta e agricultor
Eu faço aqui um aparte
Mostrando o grande valor
Do talentoso feirante
Gabriel Aboiador:
“Gabriel Aboiador
Que é filho de Sapé
Afasta cobra com o pé
Na vida de agricultor
Eu no meio dos doutor
Me sinto bem à vontade
Dizendo dessa saudade
Que sinto de Gabriela
Cozinhando na panela
O picado com pimenta
Quero saber qual a venta
Que não sente o cheiro dela”
Como feira ecológica
No mercado é pioneira
Umas cinquenta famílias
Produzem e vendem na feira
Seus alimentos saudáveis
Feijão, coentro e macaxeira
Abrindo a grande porteira
Do campo para a cidade
Os orgânicos produtos
Sem veneno que o degrade
O cará, o milho verde
E dentro da validade.
Caju sem toxidade
Acerola e manga rosa
O freguês desfruta ainda
Dois dedos de boa prosa
Com os amáveis feirantes
Gente direita e bondosa.
Açafrão, boldo e babosa
Agrião e alfazema
A farmácia natural
Cura aflição e eczema
Tudo isso tem na feira
Nesse natural esquema.
Se você ta com problema
Coisa de adoecimento
Procure Cida das folhas
Ela prescreve um unguento
Com a amiga Zezé
Mitiga o padecimento
Dona Nem tem a contento
Ervas, raízes e plantas
Zefinha informa e prepara
Algumas meizinhas santas
Tudo remédio caseiro
Logo, logo te alevantas.
Essas ervas sacrossantas
Benzidas por Padre Gino
Assentamento em Sapé
Com a fé do nordestino
Fazem a Feira EcoVárzea
Um projeto campesino
Feijão é com Severino
É a agroecologia
Todos empreendedores
Irmanada economia
Em forte cooperativa
Acerando todo dia.
Bom resultado anuncia
Com o orgânico produto
Liliane sabe disso
Porque já colhe seu fruto
Cultura familiar
É o seu grande reduto.
Alimento que eu degluto
De agrotóxico é liberto
Mas no Brasil de hoje em dia
Nosso futuro é incerto
Pois os químicos compostos
Estão cada vez mais perto.
O consumidor esperto
Procura se alimentar
Com produto sustentável
Acessível e popular
Sem o atravessador
Para inflacionar.
Segurança alimentar
E progresso sustentável
Foi a Pastoral da Terra
Em projeto venerável
Que deu oportunidade
Tornando a roça rendável.
Foi um casal mui amável,
Os irmãos Arnaldo e Rosa,
Da associação Caritas
Que trouxe a ideia viçosa
Do Rio Grande do Sul
Com esperança ardorosa
Concepção caridosa
De produzir alimento
Com consciência ambiental
E natural cem por cento,
Capacitando o colono
Com o reflorestamento
Ajustamento foi lento
Para mudar os costumes
Porque a adequação
É uma faca de dois gumes
Um peixe modificado
Pode confundir cardumes.
Mas depois de muitos lumes
Muita luz e paciência
O sofrido camponês
Entrou em outra cadência
Hoje é produtor livre
Sem nociva dependência.
Hoje já tem concorrência
Mais feiras foram instaladas
Nos bairros de João Pessoa
Trilhando as mesmas estradas
Otimizando o produto
Com as ideias testadas.
As pessoas abraçadas
Com essa concepção
Mudaram as suas vidas
Melhorando a produção
Daniel, Caçote e Zizo
Comprovam esta afirmação.
Os três vendem o mamão,
Batata doce e cará,
Macaxeira e jerimum,
Feijão de corda e fubá
Só não vendem a honradez
Nem carne do Ceará.
Essa feira de acolá
Já não é mais um modismo
Eu compro toda semana
Até pelo simbolismo
Pela sua resistência
Ao feroz capitalismo
Fortalece até turismo
A economia humana
Sem a globalização
E a ganância insana
Com a amabilidade
Da gente interiorana.
Classe vegetariana
É parceira do feirante
Que também tem o apoio
De professor e estudante
A feira acolhe o vegano
E o artista errante.
Nesse país arquejante
Que o agronegócio rói
Nosso agroecologista
É uma espécie de herói
Trabalhando pela vida
Que com seu labor constrói.
Minha missão foi cumprida
O folheto aqui está
Zanzando nessa feirinha
Almoçando meu cará
Regado a cana brejeira
Tira gosto de cajá.