FELICIDADE VIRTUAL
Por Gecílio Souza
O bem que todos aspiram
Com distinta intensidade
É o bem por excelência
De suprema qualidade
Humanamente falando
Foge a qualquer paridade
Por ele se diz SIM ou NÃO
Libera ou controla a vontade
A natureza deste bem
Não pertence a ninguém
O seu nome é felicidade
Enorme é a variedade
De empíricas motivações
Conceitos que se baseiam
Em volúveis convicções
Uns dizem que é a riqueza
Que se traduz em milhões
Outros citam a família
E os seus rígidos padrões
Há quem eleja o poder
O consumismo e o prazer
Como nobres definições
São singelas opiniões
Tão estáveis quanto o vento
Mudam com as circunstâncias
Se prendem a certo momento
Do íntimo da subjetividade
O juiz é o sentimento
Cada indivíduo um parâmetro
Do seu próprio entendimento
O que se busca alcançar
É algum grau de bem estar
Que compense o sofrimento
Lazer e entretenimento
Constituem-se uma saída
Para o homem suportar
O grande fardo da vida
Isto porque a existência
É muito breve e corrida
Quando menos se dá conta
Aproxima-se a despedida
O trabalho e a ocupação
A “vadiagem” e a distração
São tangentes da partida
Carência mal resolvida
Gera um mundo de ilusões
A mente viaja longe
Aos inacessíveis rincões
Em nome da felicidade
Busca-se falsas soluções
As crises existenciais
Resultam das frustrações
No ápice dos desesperos
Consomem-se nos exageros
Cativos das próprias prisões
Fracassos e decepções
Obviamente são normais
Constituem a própria vida
Destes seres racionais
E ninguém escapa ileso
Dos dramas existenciais
Há diversas estratégias
Por caminhos surreais
Nesta arena muita gente
Busca desesperadamente
Socorro nas redes sociais
Os sonhos são naturais
E as aspirações também
Dilemas e outras ocorrências
Todo ser humano os tem
Enfrenta-se os desafios
Da forma que mais convém
Cada dia um aprendizado
Um chicote novo vem
Viver é não ter receios
Sabendo que os devaneios
Não tornam feliz a ninguém
A sorte não cai do além
Nem é uma dádiva divina
Pode estar na sala ao lado
Ou ali mesmo na esquina
Se integra à construção
Que a existência patrocina
Este frágil empreendimento
Rumo ao poente se inclina
Com maior ou menor vontade
O tesouro da felicidade
É busca que não termina
Sem cuidado ou disciplina
Mutos saem à procurar
Nos espaços da internet
Um suposto bem estar
Romance, caso ou amor
Que possa lhes completar
Relacionamento sério
Passa tempo ou até casar
Outros alimentam ilusões
E procuram soluções
Onde não irão encontrar
Os recursos do celular
São loucamente explorados
Facebook e WhatsApp
24 horas ativados
Procura-se amor e amantes
Pretendentes a namorados
E nesta caçada frenética
Há solteiros e casados
Expondo os seus desenganos
Milhares de seres humanos
Desiludidos ou frustrados
Quantos mal intencionados
Por malícia e covardia
Manipulam a internet
Procurando companhia
Com perfis impressionantes
Formam grande freguesia
Nomes e fotos fakes news
De desconhecida autoria
Sutis em suas nuanças
Atraem jonves e crianças
Ao mundo da pedofilia
Todo tipo de fantasia
Compartilham diariamente
No mensseger e instagram
Curtem-se permanentemente
Parecem animais famintos
Comem o que vêem na frente
A sociedade internauta
Parece que está doente
Sem o WiFi e o celular
Muita gente vai parar
No hospício ou na corrente
Qualquer pessoa é carente
Porque sempre falta algo
O caminho da felicidade
Muitas vezes é amargo
Pontos marcantes da vida
Se escondem no afago
As frustrações virtuais
Podem causar mais estrago
Felicidade não se sorteia
Ela é como um grão de areia
Perdido no grande lago
O mundo virtual é vago
Líquida e móvel realidade
Ela abriga multidões
De toda e qualquer idade
Muitos matando o tempo
Outros até por maldade
E assim vão se encontrando
Na tal virtualidade
Quantos indivíduos carentes
Com desculpas diferentes
Buscando a felicidade
O vazio e a ansiedade
Sintetizam a emergência
Da intervenção do saber
Para ativar a consciência
A falta de senso crítico
Neutraliza a inteligência
Na internet há de tudo
Canalhice e decência
Em maior ou menor grau
Tanto o bom quanto o mau
Estão ali por carência
Autocontrole e prudência
São virtudes fundamentais
Para qualquer ser humano
Que tem sonhos e ideais
Mas os que vivem online
Necessitam muito mais
Todo prazer tem seu preço
As frustrações são normais
Felicidade é uma construção
Se faz no toque e na visão
Fora das redes sociais
As apostas virtuais
Não preenchem o vazio
Que o ser humano carrega
Em seu espírito sombrio
Para fugir de si mesmo
A internet é um desvio
Desemboca-se no tédio
No existencial fastio
Quem não sai deste ambiente
Pode ver que está doente
Em geral não é sadio
O cauteloso é arredio
Tem firmeza e pé no chão
Desconfia da internet
E consolida a convicção
Que ela é igual rodovia
Com sua mão e contramão
Se usada sabiamente
Gera imensa produção
Mas é outra realidade
Que não traz felicidade
Neste aspecto é ilusão
Somente algum coração
Cansado de estar sozinho
Ferido ou mal preenchido
Palpitando acanhadinho
Tal qual pássaro sem rumo
Querendo encontrar o ninho
Mas o coração não tem
O cacife do passarinho
Mergulha-se no virtual
Volta vazio e muito mal
Pois ali não há caminho
Melhor uma taça de vinho
Num diálogo frente a frente
Uma troca de olhares
E um gesto surpreendente
Contatos de mãos e pele
Sentir o perfume realmente
Tudo real e palpável
No mais tranquilo ambiente
Isto que é bom de verdade
E a própria felicidade
Está ali discretamente
Entretanto muita gente
Inconsciente ao certo
Procura em lugar distante
O que pode estar bem perto
Felicidade não é tesouro
Perdido a ser descoberto
É algo a ser construido
Com o material do afeto
Seja algo sério ou um rolo
Cada passo é um tijolo
E a entrega é o concreto