ROLDÃO

ROLDÃO (cordel à beira-mar)

Na antiga cidade do Grande Condado,

Na qual o rei franco propôs sua Marca,

Vislumbra vir Hércules p'la nona barca

E ali, n'essas águas, ao encontro do Fado

Se fez ele herói em remoto passado...

Neblina dos montes vê densa baixar

A ponto que olhando não saiba o que olhar:

A Carlos parece que traz uma espada

E assim vencedor d'essa longa jornada

Por fim s'engrandeça na beira do mar:

-- "Saúdo os caídos em má retaguarda

À custa de infâmia, traição e impostura,

Que tanto contrastam co'a firme bravura

Oposta a ladinos na serra galharda.

Ninguém poderá contra sua figura

Ousar diminuir esse feito sem par...

O passo estreitado que soube fechar

Co'o próprio cadáver de espada na mão!

Negou-se a tocar d'Olifante o berrão

P'ra qu'eu o cantasse na beira do mar".

"De facto, Roldão em fechar o caminho

Se pôs entre as rochas e contra o inimigo.

Sustenta seu posto com grande perigo

Contendo guerreiros por horas sozinho.

Mas queda ferido sem ter outro abrigo

Senão os abismos d'aquele lugar.

A espada Duranda lá soube jogar

E a morte esperou sobre as neves tingidas

Co'o sangue d'aquelas inúmeras vidas

Que agora recordo na beira do mar.

"Os doze de França nas terras d'Espanha

Na má retaguarda caíram um a um

À prova meus homens, sem medo nenhum,

Ficaram p'ra sempre n'aquela montanha

Lembrados em verso na imensa façanha

De toda uma tropa sozinhos parar!

E, se hoje às Espanhas eu pude voltar,

Decerto foi pelo total sacrifício:

Roldão e seus homens n'um precipício

Serão sim eternos na beira do mar!

Belo Horizonte - 05 12 2019