A Saga Dos Sertões
Enquanto o sol açoita,
A flora robustece
Com gotas d’água na mão.
Umbuzeiro é para o sertão
Como lápis para o escritor
No fato da devastação.
Correm em descompasso
Magros bois famintos
Em busca do último repasto.
É inclemência do céu;
É solo calcinado:
Sofreguidão por todo lado.
O homem sertanejo
Atravessa a vida em ciladas:
Em surpresas repentinas.
É luta aberta com o meio;
É enfrentar a terra árida:
Onde viver é uma sina.
O Planalto da Borborema
Impede a chuva na caatinga:
Castigando a população.
O arrocho do problema
Das mortes na restinga
Faz da vida mera habitação.
Antônio Conselheiro –
Do povo, o apóstolo –
Tem sua missão.
Da República e impostos,
O sacerdote, em pregação,
Busca a libertação.
Do que o “Anti-Christo” e a “lei do cão” –
“Pecados mortais de uma nação” –
Prefere nhêta a Monarquia.
A multidão o segue em procissão;
Pelas portas, a povoação
Tange as notas da ave-maria.
Os aliciadores de seita
Aproveitam o ensejo,
Dizendo a todos em súplica:
“Ir a Canudos, à espreita;
Pois n’outros lugarejos
Têm a praga da República.”
Com a “Divisão Salvadora”,
Domam terra arredor de Canudos:
Fortaleza sem muros.
Tecem trincheiras e veredas,
Dando o ar de um ambiente
Lúgubre e escuro.
As hordas atrevidas
Usurpam casas e pastagens:
“Conquistam” as cidades.
Apossam-se das vilas
E põem templos em cima.
Oxê, sanidade!
O jagunço de São Francisco –
Salteador na guerra –
Sucede ao garimpeiro –
Saqueador da terra.
Dos Cariris, o cangaceiro,
Os quadrilheiros, aferra.
Quatro expedições são enviadas
A rumar o Arraial em nada.
Nessa peleja e impasse –
Bandeirante contra padre;
Vaqueiro contra exército –
Tem martírios e flagelos.
Na Campanha de Canudos
Tombam as igrejas:
Estilhaçam a herança.
Falece a 22 de agosto
Antônio Conselheiro:
Findando a esperança.
São dias de tortura...
Canudos perece no nordeste.
Ante 5000 soldados rugindo
Restam 4 defensores no agreste.
5000 lares desmanchando...
25000 mortes em 97*.
*1897.