Duas Fábulas, Dois Ensinamentos
Aqui quero lhe contar
Duas histórias em par
Porque podemos aprender
Que isso pode acontecer
Com quem confia demais
Em gente ruim que faz
O mal ao outro sem se condoer.
A primeira é da serpente
E de um homem decente
Que se encontram no inverno
Tão rigoroso quanto o inferno
Ela de frio estava morrendo
Ele da cobra se compadecendo
Repleto de amor fraterno.
O pobre muito solidário
Usou minutos de seu horário
Para agir como bom cristão
E tirar o bicho dessa situação
Abraçou-a junto ao peito
Agasalhando-a com jeito
Levando-a junto ao coração.
O réptil recebeu muito calor
Mas nada acolheu do amor
Que lhe dera o bom senhor
Por isso retribuiu esse favor
Quando enfim se recuperou
E sua saúde recobrou
Picando-lhe com fervor.
Recebeu o imprudente
Uma paga nada benevolente
Daquela que por natureza
Tem em si a malvadeza
Sentiu a saliva venenosa
Da víbora tão asquerosa
Penetrar sua pele venosa.
A segunda que lhes conto
Não aumento um ponto
É das pombas e o gavião
Elas precisando proteção
Recorrem a esse predador
Que aceita ser o protetor
Como se fosse um guardião.
Logo que iniciou seu ofício
Ele não escondeu seu vício
Vendo que era muito fácil
Pôs-se a devorá-las o bicho ágil
Comendo-as a cada instante
Sem considerar ser o bastante
Matar a passarada tão frágil.
Mas uma pomba inteligente
Disse para consolar sua gente
“Com razão estamos a padecer
Pois um herói viemos requerer
Devíamos confiar no coletivo
Se contávamos com bom efetivo
De um bando que podia se defender”.
A primeira tem uma moral
A segunda uma lição legal
Devemos sempre fazer o bem
Sem desprezar a ninguém
Mas é insensato dar ao vilão
Condições pra praticar a ação
Facilitando a maldade que tem.
A outra fábula nos ensina
Que o salvador que nos fascina
Pode ser o dragão que devora
A infância, o senhor e a senhora
O que ele gosta é ser poderoso
Rico, privilegiado e famoso
E usufruir tudo isso agora.
É alguém que se apresenta
Com uma força bem marrenta
Para solucionar todo problema
Como num filme de cinema
É o Batman ou Marvel Capitão
Traz um martelo em uma mão
E na outra um par de algemas.
Aberio Christe
Baseado nas fábulas de Esopo
“O Camponês e a Víbora” e “As Pombas e o Gavião”