AINDA VIRÁ O DIA (PLENA LIBERDADE)
POR JOEL MAURINHO
 
Eu ainda ouço os gritos
Dos meus nobres ancestrais
Nos porões tão infernais
Com seus olhares aflitos
Nenhuma felicidade
Perderam a identidade
Sem nada poder fazer
O banzo, “prato” do dia,
E os que sobreviviam
Seus desejos era morrer.
 
E nas terras brasileiras
Eram mais subjugados
Pois os seus donos malvados
Não eram de brincadeira
Os tratavam como animais
E se ouvissem seus ais
Castigavam sem piedade
Com coragem e esperteza
Resistiam com firmeza
Daquela perversidade.
 
Por mais de trezentos anos
Resistiram a escravidão
Cada qual com sua ação
Cada um com o seu plano
Todo trabalho braçal
Mesmo lhes fazendo mal
Eram obrigados a fazer
Seus donos sem compaixão
Os batiam sem perdão
Pelo prazer de bater.
 
A Lei Áurea os libertou
Foi uma enorme alegria
Treze de maio era o dia
Quando esse grito ecoou
Porém no dia seguinte
Crueldade sem requinte
Novamente cometeram
Nenhuma indenização
Nenhum pedaço de chão
Seus anseios atenderam.
 
Empurrados às favelas
Persistiram pela vida
Hoje são balas perdidas
São nossas novas mazelas
Um Estado monstruoso
Os transformam em criminosos
Atiram pra todo lado
Cheiro de sangue exala
Sujando aquela vala
Com mais corpos estirados.
 
Preconceito e racismo
Nunca deixou de existir
Mas não vamos desistir
Por medo desse cinismo
Vai ter que chegar o dia
Que toda essa agonia
Virará felicidade
E vamos poder gritar
Sem mais um tiro levar
E com plena liberdade,