AMOR ADOLESCENTE
Por Gecílio Souza
Sem qualquer preocupação
Eu viajava sozinho
No rítmo do meu rojão
O cantar de um passarinho
Com os olhos fixos no chão
Evitando algum espinho
Suave brisa do sertão
Me soprava com carinho
Olhei um pouco à frente
Uma bela adolescente
Surgiu ali no caminho
E se dirigindo a mim
Seu olhar cruzou o meu
Meio tímida disse assim
Olha quem me apareceu
Num cupinzeiro sem cupim
Me sentei ao lado seu
Parecia um querubim
Que das alturas desceu
Segurou a minha mão
E o seu próprio coração
Graciosa me ofereceu
Como eu iria recusar
Tão valioso presente
Recebi para lhe dar
O meu imediatamente
Ela se pôs a chorar
Me emocionei fortemente
Levantamos para andar
E andamos realmente
Saimos de braços dados
Dois corações renovados
E um projeto somente
A rígida moral antiga
Que permeia a sociedade
Ditou a mesma cantiga
Com a máxima intensidade
Era ofensa e dava briga
Duvidar da autoridade
A religião da intriga
Impôs a sua verdade
Sustentada no pavor
Quis aprisionar o amor
Mas ele arrombou a grade
O poder dos sentimentos
É um furacão natural
Ninguém lhes aprisiona
Em algum gueto formal
Deseja-se a quem quiser
Morra quem ache anormal
O coração rompe as correntes
Impostas pela moral
Sem prazo de validade
O amor não escolhe idade
Ele ama e ponto final
Viajamos estrada a fora
Refletindo sobre o tema
É que a tradição de outrora
Inventou um falso dilema
Dizendo que o amor mora
Somente no sacro esquema
Tal crença caiu na hora
Bastou um único poema
O coração é perspicaz
Jovem ou velho tanto faz
A idade não é problema
Debaixo de um arvoredo
Fizemos nova parada
Caminhamos desde cedo
Naquela longínqua estrada
Ela me contou um segredo
Toda alegre entusiasmada
Disse-me não tenha medo
Não se preocupe com nada
Há tempo o meu coração
Aguarda esta ocasião
De por você ser amada
Tão jovem mas visionária
Madura e inteligente
Na educação secundária
E uma visão lá na fente
Sua tese extraordinária
A aceitei prontamente
Numa escolha voluntária
Me declarou consciente
Confesso fiquei garboso
Porque é maravilhoso
O amor adolescente!