O Conto do Zé Luna

Meu amigo José Luna

Sujeito “calafetoso”

“Sempremente” “engabeloso”

É de dá nó em coluna,

“Entupidor” de lacuna,

"Maletroso" experiente;

Faz um relógio oriente

De casca de melancia,

Ainda dá garantia,

Não atrasa facilmente.

“Cafinfim” astucioso,

Tem olho-de-encanta-boto

É a descrição de maroto

Que li no dicionário,

Matreiro visionário

É capaz de se envultar

Sempre pronto a aprontar;

É um saco de carvão

Não importa a posição,

Onde encosta vai sujar.

Deixou a terra natal,

Quis respirar outros ares

Mas, apesar dos pesares

Se mandou com seu bornal,

Em riba duma rural

Desterrou de sua família,

Enveredou noutra trilha

Foi “cafuscar” outra croa,

Foi às terras da garoa

Trocar cuscuz por baunilha.

Toda mudança é difícil

Se não for um cabra esperto,

Foi doutor em manifesto

Curador de orifício,

Fogueteiro em artifício

Se tornou um alquimista

Foi grande ilusionista,

Fez dinheiro de papel

Foi porteiro de bordel

Se duvidar, transformista.

Chegando num lambe-lambe

Perto da Praça da Sé

Encontrou com seu Mané,

Nativo de Chorrochó,

Temperando o seu gogó

Maquinou a sua trama;

-O senhor é o que tem fama?

Tirador de bom retrato,

Vou ali me dá um trato

Pra mandar pra quem me ama

Foi numa barbearia

Voltou sem barba e bigode,

Aí falou - Como é que pode?!

É a cara de tio Zé!

O senhor, de onde é?

-Sou Mané do Chorrochó!

-Foi de lá que veio vovó!

Respondeu sem “trupicar”,

Hoje mora em Curaçá,

Lá na fazenda Jiló.

O velho se engabelou

Com os papos inerentes,

-Quem sabe somos parentes,

Emendou o José Luna,

Se apegando a infortuna

Inocência de Mané

-Vou tirar quantas quiser!

E farei uma promoção

Esperto que só o cão.

Aplicou logo um “migué”.

-Teria como eu posar

Usando o seu paletó?

Quero mostrar a vovó

Logo q’eu voltar pra lá

O senhor sem assuntar

Entregou-lhe um Casimira

E um relógio de safira

-Vai ficar bem elegante

Fique quieto um só instante

Que nem vara de imbira.

Caminhou pro seu caixote

Se enfiando a um capuz preto

Olhou, mas não viu direito

-Se aprochegue para cá,

Olhava sem enxergar

Mirava pra todo lado

E José? Necas, calado,

Nem ele, nem sua voz

Levantando o albornoz,

Percebeu, - fui “enrolado”!

O malandro se mandou

Carregando o belo terno,

Não se sabe p’onde inferno

O Zé Luna se envultou,

Mas na Sé nunca voltou,

Chorrochó? Jamais pisara,

O safira? Empenhara,

Numa jogada sem glória;

Hoje sabemos da estória

Por conto de Zé Omara.