A Serpente e a Lima
Certa vez uma cobra danada
Ao entrar na casa de um ferreiro
Sentiu-se por demais ameaçada
Que deu um bote certeiro
Numa lima que ali estava
Dando-se mal o animal rasteiro
À ferramenta não houve nada
Pois o seu aço ficou inteiro.
Mas nunca foi de desistir
A feroz sagaz serpente
E tentou outra vez ferir
Ao limador impertinente
Que parado como a sorrir
Olhou o réptil indecente
Do qual o sangue a cair
Encharcava o ambiente.
A cobra com sangue na boca
Mostrou-se desnorteada
Mas a lima com voz rouca
Não pode ficar calada
E disse sem fazer fofoca
Para a peçonhenta calada
Você é néscia e boboca
Minha matéria é temperada
Você pra mim é uma minhoca.
Não pode me fazer mal
Nem me aplicar seu veneno
Eu resisto a qualquer animal
Seja ele grande ou pequeno
Por isso vá para o quintal
Procure um outro terreno
Não seja débil mental
E avalie seu ato obsceno.
Será que a cobra aprendeu,
Será que ela guardou a lição,
Depois do que lhe sucedeu?
Mas o que vale nesta exposição
É o que você ouvinte percebeu
E vai levar no seu coração
Uma vida honesta em Deus
É como a Lima desta canção.
Ela trabalha muito bem
Faz o ferro extremamente liso
Não destrói a vida de ninguém
Colabora com seu trabalho conciso
Disposição à servir sempre tem
Faz a sua parte quando é preciso
Nunca nega a sua ajuda a alguém
Nas mãos um calo, na boca um sorriso.
Se a serpente representa o diabo
A lima é o trabalhador honesto
Nenhum mal pode lhe dar cabo
Pois se o bem que faz é modesto
O seu pecado lhe é olvidado
A Deus agrada seu pequeno gesto
E não há resquício de malgrado
Por isso sua decência aqui atesto.
Aberio Christe
(Adaptado da Fábula de Esopo)