BALAS PERDIDAS

Vi um homem esmolando,
Com uma cuia na mão,
Nos seus olhos a tristeza,
De quem não via salvação.
Numa porta de igreja,
Exposto como bandeja,
Sentado no frio chão.

Uma cena cruel,
Miséria que dava dó,
Difícil não enxergar,
A garganta dava um nó.
É mais comum que parece,
Sei que isso acontece,
Nesse exemplo, não estava só.

Confesso, fiquei curioso,
E sentei-me ao seu lado,
Cordialmente puxei assunto,
Procurei ser delicado.
Na intenção de saber,
Sua vida conhecer,
Sem ser mal educado.

Conquistei-lhe a confiança,
E lentamente, ele se abriu,
Já com lágrimas nos olhos,
Discretamente ele sorriu.
Descobri que por amor,
Aquele velho senhor,
Desiludido sucumbiu.

Tinha uma bela família,
Felicidade no lar,
Cinco filhos e esposa,
Tinha razão pra amar.
Mas em um trágico acidente,
Todos estavam presentes,
Só ele se pôde salvar.

Desse dia em diante,
Sua vida perdeu o sentido,
Médico de profissão,
Passou a viver deprimido.
Largou tudo pra trás,
Ainda um belo rapaz,
Saudade dos entes queridos.

E que sirva de lição,
Pra quem pensa que a vida,
É somente um mar de rosas,
Mas pra muitos é sofrida.
E a moral da história,
Que se preserve na memória,
O risco de balas perdidas...