O DIA EM QUE IRMÃ DULCE RODOU A BAIANA NO BREGA!

Os santos santificados

Podem até virar santos,

Mas um santo consagrado

Pelo povo com seu manto

É santo mais verdadeiro,

É o verdadeiro Santo.

Foi assim com Irmã Dulce

Desde o tempo em que era viva.

Andava sempre sozinha,

Evitava comitiva

Para ajudar os pobres

De maneira assertiva.

Desde a sua adolescência,

Aos 13 anos de idade,

Acolhia os mendigos

E doentes da cidade.

Levava-os para casa

Fazendo a caridade.

No bairro de Nazaré,

Na rua da Independência,

A família concordava

Porque tinha consciência

Que a bondade da filha

Tinha muito coerência.

Doutor Augusto Lopes Pontes

O pai, era um dentista,

E Dona Dulce Maria,

Boa mãe e altruísta,

Sempre deram apoio à filha

Com os irmãos ativistas.

Jogou bola, empinou pipa,

Era menina arretada,

Destemida e justiceira

Que vivia preocupada

Com a miséria alheia

Que ninguém fazia nada.

Ela queria seguir

A vida religiosa.

Foi professora formada

Bem educada e bondosa,

Logo se tornou uma freira

Com carreira gloriosa.

Pra homenagear a mãe,

Que perdera muito cedo,

Adotou o nome Dulce

E seguiu firme sem medo

Com a fé em Jesus Cristo

E São Francisco no enredo.

Foi lá em Massaranduba

Que começou a ensinar

E com os pobres dos Alagados

Decidiu ir trabalhar.

No ano de trinta e cinco

Ela já estava lá.

Junto com Frei Hidelbrando

Fundou o Círculo Operário

E três cinemas famosos,

Pois eram visionários,

De onde tiravam dinheiro

Para pagar honorários.

Depois que a casa dos pais

Virara um ambulatório

E o galinheiro do convento

Um albergue irrisório,

Ela ocupou muitos prédios

Sem precisar papelório.

Em seguida o Colégio

E o Hospital Santo Antônio

Que atendia a todos

Que viviam bem tristonhos

Sem uma assistência médica

Do sistema enfadonho.

Sabe-se que Irmã Dulce

Vivia de doações

E ela insistia muito

Em algumas situações

Que os doadores fugiam

Das suas solicitações.

Muitos achavam ela rude,

Bruta e até malcriada.

Quando lhe faltava verba

Pra sua causa sagrada,

Ela cria muito em Deus,

Mas não ficava parada.

Assaltaria até banco

Junto com um presidente,

Um general ditador

Que a deixou descontente

Com o atraso de uma verba

E quis ser irreverente.

Também roubou ferramenta

Pra sua obra andar.

Sem nenhum constrangimento,

Depois mandava avisar

Que pegou e pegaria

Para mais vidas salvar.

Uma gráfica ofereceu-lhe

Cartões para o Natal.

Ela preferiu o dinheiro

Que era emergencial,

Vender cartão não seria

Assim tão fundamental.

Um dos casos mais famosos

Ocorreu com um prefeito

Que discursava bonito,

Mas não agia direito.

Prometia e não cumpria,

Mas com ela não teve jeito.

Os políticos safados,

Como muitos por aí,

Ao verem irmã Dulce

Optavam por fugir,

Escapando pelos fundos

Da prefeitura a sorrir.

- A pidona não se cansa!

- Toda hora quer dinheiro

Para ajudar os pobres

Que vivem num pardieiro.

- Vamos é nos divertir

Lá embaixo no puteiro.

Na Ladeira da Montanha,

Lá na Casa Meia Três,

O prefeito e os assessores

Entraram como freguês

E foram pro reservado

Beber uísque escocês.

Irmã Dulce arrudiou

Pela Praça Castro Alves.

Perguntou para a Mãe Preta

Onde tava o irresponsável.

Ela apontou pro Meia Três

E Dulce entrou sem entrave.

Enfim ela os encontrou

No meio das prostitutas.

Nem a Santa Madalena,

Que havia sido puta,

Aceitaria tais homens

Usando aquela conduta.

Irmã Dulce se armou

Com um cabo de vassoura,

Deu na cabeça dos homens

De forma avassaladora,

Que de joelhos pediram

Perdão à superiora.

- Ôxe! Ôxe! Fechem a cara!

Tratem de me respeitar!

Faço mais do que vocês

Pra nosso povo melhorar.

Os senhores forem eleitos

E só pensam em roubar.

Não se achou pecadora

Pois agiu feito Jesus

Que expulsou do seu templo

Os vendilhões cururus

A sua causa era justa

Abençoada e de luz.

Isso é o que ela era:

A defensora dos pobres,

Miseráveis, desvalidos,

Achincalhados por nobres,

Que eles representavam

Limpando sempre os cofres.

Depois daquela lição,

Em que rodou a baiana,

Irmã Dulce foi embora

Dando-lhes uma banana

Com o braço empunhado

Para o lote de sacanas.

Muitas lutas enfrentou

Com seus amigos parceiros

Que quando se comoviam

Agiam feito guerreiros

E mesmo quando doente

Não abandonou seu terreiro.

Aos setenta e oito anos

Partiu desta pra melhor

Com o sonho realizado

E consagração maior

Que o Nobel e beatitude,

Com o povo não ficou só.

E se hoje ela é uma Santa,

É porque seu povo quis.

Botou fé em suas forças,

Frutas de boa raiz,

De esperança e coragem

Na capela ou na matriz.

O Papa só cumprirá

Com a sua burocracia

Lá em Roma rezará

Toda aquela liturgia

Pois há muito tempo ela

É a Santa da Bahia.

Salvador, 05 de outubro de 2019.

Jotacê Freitas