O Pique Nique da Família Tartaruga

Uma família grande de jabutis

Decidiu fazer um pique nique

E não pense que foi fácil decidir

Pois conversas e discursões

Aconteceram em diversas refeições

Até concluir onde deveriam ir.

Cada palavra de uma tartaruga

Demora muito tempo em média

Uma conversa fácil madruga

Seja de uma pergunta e resposta

Ainda pior se há palavra composta

Então o tempo total é você quem julga.

Enfim decidiram o parque a visitar

Seria o belíssimo Ibirapuera

Bom para um lanche partilhar

Preparam os doces e sandubas

Tanta fruta que Deus nos acuda

Pois daria trabalho para carregar.

Foi muito tempo até sair de casa

Pois todos queriam bem se arrumar

E sempre há aquele que se atrasa

Já que o perfume não quer esquecer

Pois bem na fita deseja aparecer

Para na diversão mandar brasa.

Enfim chegou o momento de sair

Depois de meses de preparação

Começaram pelo caminho seguir

Passo a passo sem pressa nenhuma

Em fila indiana uma a uma

Fazendo a distância diminuir.

Essa caminhada demorou um ano

Até que chegaram ao destino

Porém todas sem nenhum dano

As tartarugas bem cansadas

Mas ainda deram muitas risadas

E estenderam na grama o pano.

Tiraram da cesta pão e geleia

E outras guloseimas gostosas

A tartaruga vó, a mais velha

Ficou responsável pela arrumação

Ela contava com 180 anos neste chão

E se chama Dona Maria Zélia.

Depois de algumas semanas enfim

Ela termina a tarefa que iniciou

Mas tudo bem se não fosse algo ruim

A família esquecera de trazer o sal

E alimento sem sódio não é legal

Por isso chamou o Senhor Joaquim.

Este era o mais sábio dos Jabutis

E beirava seus 150 anos de vida

Era ele que resolvia tudo por ali

Uma espécie de pai, chefe e juiz

E todos davam ouvido ao que ele diz

Chamou então a tartaruga Magali.

Ela era a mais jovem da comunidade

Tinha apenas doze anos de existência

Para uma jabuti era tenra sua idade

Tida como a menos lenta para andar

Deveria o cloreto de sódio ir buscar

E trazer de volta com velocidade.

Mas a jabutizinha era desconfiada

Como todo adolescente do mundo

Reclamou que se pegasse a estrada

Ficaria com fome e sem comida

Pois acabaria tudo, até a bebida

E pra ela não sobraria nem salada.

Os outros lhe quiseram tranquilizar

Dizendo que não tinha nada a temer

Pois iriam pacientes esperar

Que ela voltasse para enfim comer

E somente na sua presença iriam beber

Que Magali podia neles confiar.

Ela não deu sinal de estar convencida

Mas em passos de tartaruga

Pôs-se a andar em direção à avenida

Os outros mesmo com muita sede

Deitaram pacientes em suas redes

Torcendo pra ela fazer rápida ida.

Calcularam seis meses mais seis

Para ela ir e sem demora voltar

Pois a metade do tempo talvez

Usaria para fazer mesmo percurso

Economizando tempo no transcurso

Que a família inteira a pé ela fez.

Mas o tempo previsto passou

E nada da jabuti jovem voltar

Mesmo assim a família esperou

E nenhuma torradinha comeu

Honrando a palavra que deu

Àquela que fidelidade lhes cobrou.

Esperaram então mais um ano

Que até o pão endureceu

O pique nique começou ir para o cano

O leite e a margarina azedaram

A melancia e as bananas estragaram

O passeio perfeito sofreu sério dano.

Considerando a grande demora

Os jabutis convocaram reunião

Para decidir o que fariam agora

Já que a fome muito apertava

E a comida toda se estragava

E a Magali ainda estava fora.

Fizeram então uma votação

E ninguém escolheu o contrário

Partiriam sim para a refeição

Pois a situação já dava enguiço

E ninguém merece passar por isso

Por que a fome já causava aflição.

Quando os jabutis iriam comer

A tartaruguinha jovem apareceu

Estava o tempo todo a se esconder

Atrás de uma árvore tinha ficado

Pacientemente tinha esperado

Para perceber o que iria acontecer.

Ela gritou: “Eu disse, não disse?

Vocês não iriam me esperar,

Já pensou se eu mesmo sumisse?

Ainda bem que não fui buscar

O sal que ficou no nosso lar,

O que fazem comigo é sandice!”

Com isso que à família aconteceu

Podemos aprender boa lição

Aquele que de desconfiança se encheu

Nenhuma promessa ou argumento

Lhe valerá para nesse momento

Fazer mudar o pensamento seu.

E aquele que acredita numa tese

Mesmo que não tenha pé no real

Fará de tudo, até viajar na maionese

Para provar ser certa sua ilusão

E da sua mentira não abrir mão

Mesmo que o contrário mais pese.

Aberio Christe