ROLOU BARRACO NA FESTA

ROLOU BARRACO NA FESTA

Ou O romance de Ritinha e Zé Bento)

Matuto em tempo de festa

Fica muito assanhado

Vai pra loja comprar roupa

Deixa o sapato lustrado

Encomenda um perfume

Não quer deixar o costume

De sair todo arrumado

Quando chega no terreiro

Parecendo um Janotinha

Faz sinal pro’s pareceiros

E pra’s filhas da vizinha

“Vamos à festa na rua

Hoje a noite é de lua

Voltamos de manhãzinha”

Os tempos estão modernos

Não vamos andar a pé

Esperem a lotação

Que está vindo do Imbé

“Chegando lá não descanso

Corro logo no balanço

E depois no carrocé

O movimento da estrada

Forma nuvem de poeira

A paisagem é cinzenta

A vegetação é rasteira

Vou dar na roupa um retoque

Ler frase de pára-choque

E a viagem vai ligeira

O mote chamou atenção

É filosofia ou não é?

Com tanta imaginação

Só vindo do Catolé

“Turbinado só no pé

Tô reduzido no mé

Carona só pra muié”

Vi outra muito engraçada

Rapidamente passar

Escrito com letras grandes

Essa é que foi de lascar

“Quando eu parar de beber

Tomo um porre pode crer

Que é para comemorar”

Chegamos amarrotados

Mas com muita animação

Passou o maestro Rodolfo

Tá acabando a procissão

Os políticos não faltam

De aparecer eles sacam

Aproveitam a ocasião

Saltamos lá na usina

Sacudimos as poeiras

Saímos de rua abaixo

Olhando as moças faceiras

Já ouvimos nesse instante

O som do auto falante

Chamando pra’s brincadeiras

Zé Bento todo animado

Foi lá na bilheteria

“Vou mandar o meu recado

Com música e poesia

“Pra Ritinha que eu adoro

Vai esse postal sonoro

Com carinho e alegria”

A canção foi do Roberto

-As flores do meu jardim

Fez a moça suspirar

E pensar no Zé Bentim

A poesia era de amor

Falava de beijo e flor

Nas festas de Surubim

E com esse ar de romance

Deu vontade de comer

Não leve para a maldade

Pois é fome pra valer

Na estrada nós sofremos

Não comemos nem bebemos

É hora de abastecer

Tem bancos bem coloridos

De pães e bolos de feira

Beira seca e alfinim

Tem todo sabor que queira

A castanha é confeitada

Nego bom, bala e cocada

Confeito pra turma inteira

E por falar em mistura

Continua o lenga lenga

De Zé Bento com Ritinha

Que agora virou arenga

Bento se perdeu da amada

Entrou foi numa roubada

E começou a pendenga

Ritinha deu bola a Dé

Aceitou uma cerveja

E naquele converçê

Foram pra trás da igreja

“Agora deu a molesta

Resmungou franzindo a testa

Tomara que ninguém veja”

O fuxico andou depressa

Mais ligeiro que um bonde

Chegou logo no Zé Bento

Não se sabe nem de onde

O sangue subiu a cabeça

Não é coisa que ele mereça

Sua vergonha não se esconde

Não se evitou o confronto

Foi aí que o pau cantou

A coruja ficou muda

E jurupoca piou

Querendo fugir da briga

Ritinha chamou uma amiga

De fininho se mandou

Que bichinha descarada

Escapou do reboliço

Foi dançar lá no Sport

Sem querer nada com isso

Porém ali foi o fim

Pena que acabou assim

Seu namoro e compromisso

Por outro lado o corno

Tomou sua decisão

De trabalhar em São Paulo

Esquecer a decepção

Se escafedeu de verdade

Foi roendo de saudade

Mas com determinação

Daí com o passar do tempo

Foi por lá se ajeitando

De ambulante e de garçom

Bons trocados foi ganhando

Com desejo persistente

De mostrar pr’aquela gente

Que por cima ia voltando

E aqui na vida pacata

Rita só se arrependeu

Foi chamego de uma noite

Depois Dé não apareceu

A besta por sua vez

Viu a burrada que fez

De Bento nunca esqueceu

Passaram mais de seis anos

Quando a notícia espalhou

Zé Bento ia voltar

O dia dele chegou

Deu-lhe um aperto no peito

Nem via a hora direito

Cheio de emoção ficou

O carro parou na frente

Da casa de Mariquinha

O povo foi pra janela

Pra ver quem era que vinha

Chegou o rapaz faceiro

O cabra ganhou dinheiro

Fofocou Dona Zefinha

Formou-se logo uma roda

De gente para assuntar

Disseram as novidades

Antes de Zé perguntar

“Xico morreu numa briga

Rosa virou rapariga

Tereza vai se casar”

Zé Bento pra se exibir

Chegou de jeans desbotado

Pulseira e cordão de prata

E o tênis era importado

O celular tava um brinco

Comprado na vinte e cinco

Blusão novinho listrado

Na espreita Rita viu tudo

De inveja ficou roendo

Seu ex deu bola pra outras

Fingia não estar lhe vendo

A fé não está perdida

Daria sua investida

Não vale ficar morrendo

Mais tarde a festa rolou

No forró de Zé Gambar

Ritinha se embonecou

Crente que ia abafar

Quando olhou pra Zé de frente

A paixão voltou ardente

Voltaram a namorar

Esqueceram as desavenças

O amor venceu a zanga

Não ligaram comentários

Nem as caras de muganga

Marcaram o casamento

No inesquecível momento

Regado a suco de manga

No nosso torrão é assim

O amor é bem verdadeiro

As comidas têm sustança

Povo animado e festeiro

Falando nordestinêz

Colhendo o fruto da vez

Tem forró o ano inteiro.

Fátima Almeida

Mary Fa
Enviado por Mary Fa em 30/09/2007
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