Por que prendeu Branca?
Airam Ribeiro
Desigualdade social?
Esse nome é que cai bem
Tantos com muita grana
E outros sem um vintém
Os personagens de seu conto
No Brasil é o que mais tem.
Na justiça? Injustiça!
Bem vestido é homem de bem
Que através de sua roupa
Esconde os defeitos que tem
Mas roupa bonita não mostra
O caráter de ninguém.
Menina de rua. Citaste!
Só pede porque não tem
Achou a carteira perdida
Julgamento de alguém
Roubou na minha bolsa!
A mentira convém?
Ser pobre não quer dizer
Que todos são ladrões
Por um julgamento destes
É que está cheia as prisões
Que mesmo sem dever
Ainda escuta os sermões.
Um presente para mamãe
Era uma idéia sonhada
Amor que ninguém entendia
De uma criança desamparada
A Branca era uma negra
Mas de alma lapidada.
Gente preconceituosa!
Mas o juiz não entendeu
A madame que era branca
Da mentira sobreviveu
Enquanto a negra coitada
O doutor juiz, prendeu!
É assim neste nosso país
Cheio de tanta heresia.
Quem quer ser maltrapilho?
A não ser por uma fantasia
No drama de qualquer teatro
Aplaudido pela burguesia!
É proibido pedir esmolas!
Diz a madame acolá
A astúcia não deu certo
Para a mãe presentear
Mas a carteira perdida
Estava no chão ao passar.
E a menina coitada
Está lá numa prisão
Simplesmente porque achou
Uma carteira no chão
É proibido achar?
Eu li pergunto cidadão!
Faltou astúcia a ela
Para pedir uma esmola?
Quantas mulheres bem vestidas
Carregam dinheiro na calçóla
Que roubam as escondidas
Sem o juiz ta na cola?
Mas essas não vão presas
São mulheres de doutores!
Que conhece o caviar
E doces de muitos sabores
Essas não!... Não posso prender
Tomariam meus penhores!
A enchente levou o barraco
O juiz a mandou para cadeia
Só porque achou uma carteira
E a madame inda arreleia
Chama de negra, ladrona
Mentirosa. Coisa feia!!!!
Acuada e sem poder sair
No repente, o proceder!
Com a única arma que tinha
Fez aquele guarda gemer
Por um achado e uma dentada
É que ele foi li prender.
Satisfeita madame!
Dói a sua consciência?
Sociedade hipócrita
Chega de tanta demência!
Se olhar em tua lista
Verás mais esta pendência.
Respondendo a um conto de Maith