CHAPECÓ E MEDELLIN

O estádio está superlotado

Mas não há jogo nem há bola

Há dor que ninguém consola

Nem mesmo a solidariedade

De um povo, de uma comunidade

Desconhecido até poucos dias

Sem jamais pensar que faria

Um gesto de tanta humanidade

Mas não é na Colômbia das FARC?

Não é na Medellin de Pablo Escobar?

Estas pessoas que estão a chorar

Como se fosse a morte de irmãos

Com quem não teriam obrigações

A não ser as da hospitalidade

Só precisavam demonstrar cordialidade

Mas escancararam os seus corações

De maneira muito espontânea

Medellin se uniu a Chapecó na dor

Mostrando, antes de tudo, grande amor

Abriu os braços, o coração, o peito

Fez o mundo mudar seu conceito

Desta terra de que só se sabe o pior

E do povo não se mostra o calor

Mas por quem agora se tem respeito

Não foi apenas o povo no estádio

Até mesmo as morosas autoridades

Sem marasmo, com muita celeridade

Apressaram o retorno nos aeroportos

Dos que saíram atletas e voltaram corpos

Acabando com o sonho esportivo

Reservado apenas a quem está vivo

Ou sobreviveu para chorar os mortos

Só se conhece as pessoas nos afazeres

Elas se revelam quando tudo falha

Quando a abnegação se espalha

Quando os vizinhos se mostram parentes

Quando sentem o que a gente sente

Foi quando a Colômbia se mostrou gigante

Medellin de uma ação contagiante

Exemplo para o mundo, daqui pra frente

A Chapecoense perdeu o seu time

O mundo ganhou porque as pessoas

Mostraram que ainda podem ser boas

Que a dor de uns envolve e se torna coesa

Não há protelações embora haja surpresas

Quando a vida chega ao seu fim

Não há orações, rezas, preces, enfim

Que preencham o lugar vazio à mesa.

(Este poema foi escrito enquanto aconteciam as homenagens aos atletas mortos)

Luiz Lauschner

Lauschneram@hotmail.com