Versão Cordel: O Morcego Na Guerra
Você tem algum ideal
Ou, como nessa história
De inspiração genial
De um fabulista de glória,
Você trai de qualquer jeito
Como se não fosse defeito
Mentir por vanglória?
Preste então atenção
No que conto a seguir
E medite no seu coração
Com o tema que vou arguir,
Narrando sobre uma guerra
Que aconteceu nesta terra
Entre os bichos daqui.
Aves e animais que mamam
Desentenderam-se entre si
E aí os ânimos se inflamam
E a guerra acontece ali,
Batalhas por todos os lados,
Muitos bichos atacados
Numa confusão sem fim.
O morcego foi capturado
Pelos bichos mais ferozes
E logo foi sentenciado
Por juízes tão velozes
Que já queriam executar
O bichinho a implorar
O perdão dos seus algozes.
Por ser ele um voador
Confundiram-no com passarinho,
Ele defendeu-se: “Por favor
Olhem bem esse coitadinho,
Tenho pelos, não tenho pena,
Não há bico que me condena,
Sou parente de um ratinho.
Suas provas inquestionáveis
Foram aceitas pelos animais,
Tinha dons invejáveis,
Mas ave não seria jamais,
Podia voar como gavião,
Mas era um belo ratão
E faria pela raça muito mais.
Os mamíferos ficaram felizes
Por terem enfim um avião,
Deram-lhe logo as diretrizes
E o enviaram em missão
Para atacar de surpresa
As aves na natureza
Com impiedosa agressão.
Mas o morcego se deu mal
E se tornou prisioneiro
Levando um belo pau,
Colocaram-no num viveiro,
Este gritou por clemência:
“Me escute vossa excelência,
Sou um pássaro por inteiro.
“Vejam minhas belas asas,
Mamíferos não as têm,
O céu é minha casa,
Durmo nos altos também,
Estou do lado de vocês,
Pois ave o criador me fez,
Vivam as aves do bem!”
O que devemos aprender
É muita coisa com certeza,
Mas no meu modo de ver
Uma se destaca com clareza:
Há muitos morcegos no mundo
Nem preciso ir muito fundo
Para ver isso com largueza.
Gente sem nenhuma causa,
Pessoas sem nenhum ideal,
Digo sem nenhuma ressalva,
Para esses o bem e o mal
São apenas um negócio
Que depende do seu sócio
Que vai adquirir o qual.
Fidelidade nem pensar,
É coisa que não subsiste,
Se o salário compensar
O morcego não fica triste,
Ele baila com a cantoria
Balança com a ventania,
Lado certo pra ele não existe.
Aberio Christe
Adaptação da Fábula de Esopo