DO CRIADOR À CRIATURA
(Joésio Menezes)
Expulso do paraíso,
Satanás quis se vingar
E, desafiando Deus,
O mal resolveu criar:
Semelhante à sua figura,
Faria uma criatura
Digna de se orgulhar.
Longe dos olhos de todos,
Dedicou muita atenção
Na feitura da sua cria,
Imagem fiel do cão.
Ele escolheu com cuidado
Tudo o que seria usado
Naquela sua criação.
Pegou litros de chorume,
Pó de fezes de urubu,
Urina de ratazanas,
Ovos de surucucu...
Pra ficar bem temperada,
Completou a misturada
Com baba de cururu;
Pôs tudo num caldeirão
Com outros ingredientes:
Peçonha de “mamba-negra”
(A mais feroz das serpentes)
E sangue de comensais
Com coliformes fecais
Solvidos em aguardente.
Misturou na caldeirada
Enxofre com naftalina,
Excremento de hiena
Batido com creolina...
Para tê-lo perenal,
Satanás colocou sal
Com álcool e formalina;
E pra deixar apurada
A índole da criatura,
Colocou algumas doses
De sordidez e usura,
Veneno de escorpião
E esperteza de ladrão
Mentiroso e caradura.
Também pôs na sua receita
O recurso da “manobra”,
Doses de mau-caratismo
E a perfídia de mil cobras;
E quando ele se deu conta,
Em dois dias estava pronta
A sua mais perversa obra.
E foi assim que o Político
Por Satã foi concebido:
Um ser sem nenhum escrúpulo
E de moral desprovido;
Ardiloso, vil, matreiro,
Astuto e traiçoeiro,
Um verdadeiro bandido.
Desde a sua criação,
Ele vem se triplicando
E, cada vez mais esperto,
A todos ludibriando.
E querendo sempre mais,
O Político, voraz,
Devora também seu bando...
Satanás, arrependido,
A Deus pediu Seu perdão
Por ter trazido ao mundo
Essa grande aberração,
Sem amor, sem hombridade,
Sem brio, sem honestidade,
Sem alma, sem coração,
Que a cada par de anos
Aparece pra roubar
Os sonhos da nossa gente,
Já sem nada pra sonhar...
Com as suas falsas promessas,
O canalha mente à beça
Até a todos enganar
E depois desaparece
Da vida do eleitor,
Que nada tem pra comer,
Mas vive pro seu labor...
Satanás, àquela altura,
Chora ao ver sua criatura
Superar o criador.
11/07/2019