Ser pai.
Ser pai é um privilégio
Que nem todos sabem ter
É levar filho ao colégio
Também ensinar a ler
Ao bom pai eu sempre invejo
Porque pai não soube ser.
Sou um pai já destroçado
Pela agrura do destino
Sei que fui um mal amado
Pela mãe do meu menino
Eu também fiz o pecado
De não dar pão e ensino.
Hoje tenho o dissabor
De rever o meu passado
Nele tive o desamor
Por dar passo mal pensado
Respondi negando amor
Hoje sei que fiz errado.
Revisando o meu destino
Procurei andar mais certo
Deixei de ser clandestino
Fiz meu coração aberto
Reconheci no menino
O meu filho muito esperto.
Toda a minha existência
Foi vivida em solo fraco
Faltou-me a inteligência
Talvez tenha sido um fraco
Também tive a competência
De andar vestido em trapo.
Muitas vezes procurei
Viver só facilidade
Nesse viver descansei
Não tive tenacidade
Meu filho não eduquei
Estraguei-lhe a mocidade.
Nessa forma de viver
Encontrei os desenganos
Que mudaram o meu viver
Pra diminuir os danos
Porém o meu padecer
Vai durar mais alguns anos.
Vou seguir meu caminhar
Fazer votos de pobreza
Vou reconstruir meu lar
Sem buscar qualquer riqueza
Procurar meu bem-estar
Pra saber o que é beleza.
A beleza é algo triste
Quando não tem quem a vê
Ela em si jamais existe
Também não sabe o porquê
Que o mais belo preexiste
Ao mais lindo alvorecer.
O mais belo é o prazer
De um bom filho educar
Um abraço receber
Sem por ele esperar
O filho reconhecer
Que seu pai é singular.
Nesse filho o pai rever
O sinal da gratidão
De ser pai não esquecer
Ao filho estender a mão
Demonstrar no proceder
Como é seu coração.
Muitos filhos que hoje são
Instrumentos da maldade
Não tiveram o seu quinhão
Da real fidelidade
Aprenderam no sermão
A viver fatalidade.
Não tiveram como ouvir
Num momento de prazer
Um conselho pra subir
Na escala do dever
Aprenderam a perseguir
As vantagens do poder.
E depois de muito andar
Esqueceram até do pai
Que não soube caminhar
E não sabe aonde vai
Sem jamais poder voltar
Segue a sorte que o trai.