TODOS QUEREM TAMBAQUI
TODOS QUEREM TAMBAQUI
Miguezim de Princesa
I
No coração do poder,
Logo ao romper do dia,
Formou-se uma multidão,
Foi a maior correria,
Todos queriam tambaqui,
Não havia quem não queria.
II
- Vai ter tambaqui de graça! -,
Disseram lá no Varjão,
E, lá no Paranoá,
O mestre João Violão
Logo espalhou a notícia
Na maior animação.
III
- Hoje tem Pacu Vermelho! -,
Como também é chamado,
Um radical de direita
Se mostrou logo cismado
E disse que não comia
Um peixe amaldiçoado.
IV
O povo voou no peixe,
No meio da rua assado,
Uma mulher queimou a mão
Num tição avermelhado
E um velho quase morre
Num dos tanques afogado.
V
Até mesmo um deputado
Queria comer Pacu:
- Eu só quero a cabecinha
E sair desse rebu,
Depois vou tirar o gosto
Na bodega de Calu.
VI
Vendo comida de graça,
Ninguém quis ter cerimônia:
Era o povo se empurrando,
Subindo um cheiro de amônia,
A fome ficou visível
No Festival da Amazônia.
VII
Festival de Tambaqui
No meio da Esplanada,
Os tanques cheios de peixe,
Eram sete toneladas,
Que o peixe deixa o sujeito
Com a saúde aprumada.
VIII
Quem gosta de endeusar gente
Enfrentou decepção:
Tinha gente furando fila,
Empurraram um ancião
E uma moça da Ceilândia
Reclamou de um futucão.
IX
Teve um grupo organizado
Gritando: “Quero Pacu!”,
Disse que o peixe acabou,
Começou a dar chabu,
Com muita gente querendo
Carregar o peixe cru.
X
Respeitando o fim da fila,
Um vendedor de quiabo
Reclamava que o povo
Era feroz como o diabo.
Como ele foi paciente,
Ficou na fila decente,
Só sobrou pra ele o rabo.