A Fábula Do Burro Que Virou Rei

Certa vez os animais

Quiseram fazer uma eleição,

Cansados da desorganização,

Queriam melhorar a administração,

Convocaram toda bicharada,

Os Mamíferos e a passarada

Para não faltarem à votação.

O cavalo se candidatou,

O burro também se inscreveu,

O galo os candidatos registrou,

Um franguinho deu o seu nome,

Pois se achou qualificado,

O candidato mais indicado

Para um galinheiro sem fome.

Começou a grande campanha,

O cavalo relinchou bonito,

O franguinho não fez manha,

Distribuiu muitos santinhos,

Fez comícios no galinheiro,

Ciscou por todo o terreiro

E pegou no colo os pintinhos.

Mas o burro foi mais esperto,

Não saiu do seu curral,

Pois descobriu o jeito certo

De convencer o eleitorado,

Inspirou-se numa mula do norte

Que lá na sua fazenda teve sorte

E se tornou o chefe do estado.

Os dois usaram o "zap-zap",

Também o "feice" e o "tuíte",

Pra eles aplausos: "clap-clap",

Pois tiveram boa assessoria,

Instigaram o senso comum,

Ganharam os cabeças de jerimum

E espalharam sua ideologia.

Não deu outra esse pleito,

A bicharada ficou dividida,

Não podia ser de outro jeito,

A votação enfim encerrada

E pau a pau foi o resultado

Quando os votos apurados

Mostraram a eleição empatada.

O franguinho em último ficou,

O cavalo em segundo lugar,

Mas com o burro pareou

E o segundo turno haveria,

Uma segunda convocação

Para uma outra seção

Que em breve aconteceria.

E o burro mais forte zurrou,

O cavalo deu umas coiceadas,

O burro seu ódio mostrou,

Até chamou o seu sítio de zona,

O cavalo destacou seu trabalho,

Mas no adversário deu um malho

E os defeitos do burro trouxe à tona.

O burro inventou muita lorota,

Mas outra vez saiu na frente,

O cavalo reconheceu a derrota,

Mas prometeu fazer oposição,

O burro foi empossado,

À rampa subiu empolgado

E assim assumiu a situação.

O burro até hoje diz asneiras,

Muitos bichos chiam demais,

Outros adoram suas maneiras,

Ele defende a caça à galinha,

Fala em armar os mais ferozes,

Contra ele se levantam as vozes,

Mas o apoiam os amantes de coxinha.

O burro se tornou um mito,

Muitos o veneram como santo,

Entre os animais o mais bonito,

Outros o odeiam como diabo,

Entre os viventes o mais feio,

Dizem não saber a que veio

E que só cuida do próprio rabo.

Mas essa história fabulosa

Do Burro que foi eleito,

Que vão chamar inescrupulosa,

Ela traz pra gente uma lei:

Onde o sapo pisa na bola

A mosca deita e rola

E o burro vira rei.

Aut. Aberio Christe