A velha Martins

A velha Martins

A Martins de outros tempos

das serrações, cajueiros

algarobeiras nas ruas

bodegas, sítios, chiqueiros

estradas sem calçamentos

tropas de burros, jumentos

que iam para o sertão

barro branco, umarizeira

e a ladeira da trincheira

sítio de dentro, poção

os aromas matinais

flor de café, cajueiro

na ladeira do Urubu

flor de mufumbo, espinheiro

bodegas lá no mercado

esterco fresco de gado

na madrugada orvalhada

palha de coco no chão

figança no caldeirão

tripa de porco virada

madrugadas de setembro

carroças de mandioca

final de festa na rua

garapa de engenhoca

carnaval de papangus

carro de mão de cajus

moagem na umarizeira

pedalando feito atleta

padeiro de bicicleta

pão doce com pão carteira

cambista desenfreado

numa monark engebrada

senhoras com caldeirões

vendendo broa e cocada

banca de feira na rua

carpinteiro com a pua

furando o caibro de angico

mulher com bolsa na mão

na feira do barracão

atrás de comprar penico

na feira do barracão

cocada, bolo de milho

ratoeira, chinelão

e cadeira de fitilho

tapioca e aluá

pote, panela, alguidar

urupemba e caqueira

urucum, cravo e canela

tripé de botar panela

balde d'água e cantareira

anjinho descendo a estrada

muito choro e comoção

com caixão de duas telhas

mãe amparada nas mãos

novenas no mês de maio

corisco, trovão e raio

de dezembro pra Janeiro

na festa da Conceição

roda de fogo e rojão

ofícios do fogueteiro

nos quintais de terra forte

bem adubado de estrumo

mamão, laranja, urucum

tinha roçado de fumo

engenho puxado a bois

baixa de cana e arroz

e apanhas de algodão

feijão com carne de charque

busca-pé, bomba e traque

nas fogueiras de sao João

lavadeiras com bacias

descendo em fila a ladeira

cacimbão de Dona Rita

cacimba da umarizeira

no romper da madrugada

o cheiro de farinhada

se exalava no espaço

pra cevar e tirar o mosto

botavam um cabra disposto

com muita força no braço

naqueles tempos de outrora

tinha procissão de santo

brincadeiras de calungas

rezadeiras de quebranto

pau de sebo, pinga velha

carne assada na grelha

nas festas de batizado

retrato de uma saudade

da minha velha cidade

que se perdeu no passado.

Bosquim
Enviado por Bosquim em 28/07/2019
Reeditado em 31/12/2022
Código do texto: T6706425
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