Sertão de Vaqueiros (2019)
SERTÃO DE SOL ESTURRANTE
DE SECAS POR SI, LENDÁRIAS,
DE VESTES INDUMENTÁRIAS
SERTÃO DE POVO PENSANTE,
DE ARTE TÃO IMPORTANTE,
IMPRESSA A TODO PAÍS
DE ROSTO HUMILDE E FELIZ
COM IMPROVÁVEL CENÁRIO
DE FOLCLORE IMAGINÁRIO,
DE COSTUME E DE RAIZ.
VIVA A FESTA DOS VAQUEIROS!
VAMOS ENTÃO RELEMBRAR
HOJE, AQUI EM CURAÇÁ
FAÇANHAS DESSES GUERREIROS,
QUE SOMBREIAM, AOS IMBUZEIROS
ANGÚSTIAS DA VIL LABUTA
MAS, SEM PERDER A CONDUTA
DESTABOCA A MARAVALHA
SOB UM CLIMA, TAL FORNALHA
QUE D’UM CACTO FAZ DE FRUTA.
TORRA AO SOL, GELA AO SERENO,
OS VAQUEIRO VÃO SEGUINDO,
LEMBRO, MARCELO E ADELINO,
DOIS DOS FERAS DE DIRENO,
VAQUEIROS BONS AO EXTREMO
EM DERRUBAR BOI FAMOSO,
LEMBRAMOS PEDRO CARDOSO,
SEU NÊM DO JAQUINICÓ
QUE APRENDEU LÁ NO JILÓ
A PEGAR TOURO REIMOSO.
LÁ NA FAZENDA VARJOTA
DOIS IRMÃOS FIZERAM FAMA,
EM LATADAS DE IMBURANA,
PEGAVAM QUALQUER “MAMOTA”,
SALTAVAM GRUTA OU BARROCA
FOSSE NO COURO OU EM PANO,
FALO DE HUMBERTO E URBANO,
DOIS FILHOS DE ZÉ DA SERRA,
QUE FEZ FAMA NOUTRA TERRA
COMO O SEU CRISTINIANO.
LEMBRAMOS O VELHO SANTO
DA FAZENDA CARRAPICHO,
CERTA VEZ SÓ POR CAPRICHO
PEGOU UM BOI NUM RECANTO,
POIS, REZAM QUE TINHA ENCANTO,
MAS, SEM TEMER PRECIPÍCIO,
PONDO FOGO EM ARTIFÍCIO
FOI “MARRAR” SOBRE UM PENEDO,
QUE DE PENSAR, JÁ DÁ MEDO,
MAS, HONROU O SEU OFÍCIO.
O CESÁRIO E O BIBIO,
DOIS IRMÃOS DA CABACEIRA,
PEGAVAM ATÉ CAPOEIRA
EM TABULEIRO OU BAIXIO,
CORRESSE, GORDO OU ESGUIO,
“PARECIAM UM PALADINO”,
LEMBRO LUÍS DE FAUSTINO,
MANFREDO E ANTÔI SEVERO,
VAQUEIROS DE MUITO MERO,
QUANDO É BOM, VEM DE MENINO.
PARA AS BANDAS DO SÃO BENTO,
LEMBRAMOS SEU VALDEMAR,
E JOSÉ DO HUMAITÁ,
PAI E FILHO DE TALENTOS,
EM FECHADOS OU RELENTOS
ERAM DOIS CABRAS DE GADO...
LÁ NO SERROTE PELADO,
DODÔZINHO FOI O TAL,
NÃO IMPORTAVA ANIMAL,
BOTAVA SEMPRE PEGADO.
NO SÍTIO MANDACARU,
ANTÔI PRETO ERA IMPONENTE,
TROMBAVA TOURO VALENTE,
COMO O ZEZÉ DE GINÚ,
COM SEU GIBÃO DE URUTU
PARECIA ENVENENADO...
NA FAZENDA ESFOMEADO,
RELEMBRO O ZÉ DA MARTINHA,
QUE COMO ELE NÃO TINHA
VAQUEIRO PRA DÁ EM GADO.
COM ZEBU OU COM TAURINO
RANULFO FEZ SUA ESTÓRIA
E HOJE ESTÁ NA MEMÓRIA
POR DESTREZA OU DESATINO,
NO RIACHO DE SABINO
SEMPRE AO LADO DE ODILON,
ESTEVINHO DAVA O TOM,
COM ANTÔI DE JOAQUIM
ENALTEÇO O SEU TADIM
E O GRANDE AGAMENON.
O VAQUEIRO QUANDO É BOM
NÃO PRECISA FACULDADE,
O NELSON DA LEALDADE
ERA UM QUE TINHA O DOM,
SUA CARREIRA TINHA O SOM
DA CASCAVEL N’UM ALFORJE,
E TAL QUAL SEU TÔI DE JORGE
NÃO PRECISAVA GIBÃO,
DESTROÇAVAM BARBATÃO,
COMO PIRANHA EM CABORJE.
CAVALO DE SÓ UM OLHO,
NO SERTÃO CHAMAMOS DOCA,
--ZÉ NILTON, ANJO E MUNDOCA,
TRÊS IRMÃOS PRA DÁ EM TOURO...
"MANGANGÁ" É UM BESOURO,
--ALGUÉM DIGA QUE É MENTIRA!
O SEU ZÉ DA MACAMBIRA
DESCIA EM BOI MARRUÁ,
REGAÇAVA O CAROÁ,
PEGAVA ATÉ CURUPIRA...
DO BUCHO FAZ A BUCHADA,
DO SANGUE, SARAPATEL...
NO MATO, O ZÉ DE CORNEL
PEGAVA EM QUALQUER BOCADA;
--TANTA ESTÓRIA CONTADA,
DESSE PEDAÇO DE MUNDO,
INSPIRADAS LÁ DO FUNDO,
DO FUNDO DO CORAÇÃO,
--PALMAS PRO REI DO SERTÃO
COM ABRAÇO BEM PROFUNDO.