AQUI SE ESCULHAMBA MELHOR
AQUI SE ESCULHAMBA MELHOR
Miguezim de Princesa
I
O Brasil sempre faz festa
Pra quem vem do estrangeiro:
Às vezes é um lascado,
Da venta de tabaqueiro,
Mas fica tirando onda
De quem tem muito dinheiro.
II
Estrelas que perdem o brilho
Ou chegam ao fim de carreira
Sabem que aqui encontram
Uma alma hospitaleira
Que lhe devolve o glamour
Nestas terras brasileiras.
III
Muita gente ainda lembra
De Paul Simon e Jimmy Cliff:
Ninguém mais lá os ouvia,
Mas, ao passarem em Recife,
Ganharam frevo e balão,
Comeram feijão com bife.
IV
Foi o maior carnaval
Quando chegaram à Bahia:
Ganharam nome de rua,
E até na periferia
Surgiram uns Pauls e uns Jimmys
Cantando na freguesia.
V
Orson Wells veio se parar
Nas ruas do Rio de Janeiro:
Tomou cana, cheirou pó,
Provocou grande salseiro,
Mas saiu sem ser notado
Na popa de um cruzeiro.
VI
Eles aqui chegam e mandam,
Entram em casa sem avisar,
Parecem até os gerentes
Que chegavam no lugar
E o pobre oferecia
As filhas pra se casar.
VII
Agora a bola da vez
É o dono do Intecept,
Chamado de Glenn Greenwald,
Com cara de espermacete,
Tocando fogo no mundo,
Como o diabo da Internet.
VIII
Saiu grampeando tudo:
Dallagnol, Sérgio Moro,
Capturando a conversa,
Até o zum do besouro,
Pra provar que a Lavajato
Merece o nosso desdouro.
IX
Como se aquelas conversas
Isentassem algum ladrão:
Quem roubou vai ficar preso,
Que o povo desta Nação
Não merece mais insulto,
Vergonha e humilhação.
X
Se o grampo fosse nos EUA,
Na Europa ou no Japão,
Em Cuba e Vietnã,
China e Afeganistão,
Se ele xingasse lá,
Iria ver a reação.
XI
Snowden, colega dele,
Ficou anos na Embaixada,
Correndo da extradição,
Temendo a chapuletada,
Ele não podia sair
Nem pra dar uma barrigada.
XII
Mas esse tal de Greenwald
Tá se achando poderoso,
Só porque é no Brasil,
Que se esculhamba gostoso,
Ele diz que Sérgio Moro
Não passa de um criminoso.
XIII
E ficou por isso mesmo
Na terra do carnaval:
Não duvido que alguém,
Da turma do bacanal,
Lhe ofereça uma medalha
De benfeitor nacional.