O MATUTO

Matuto é cabra da roça

Se conhece só pelo andar

Cigarro de palha na orelha

Manso no seu conversar

As roupas as vezes batidas

Calça e camisa compridas

Botas sempre a calçar.

Caminhado meio torto

Fala mansa e arrastada

Antes andava a cavalo

Hoje de moto "estilada"

Não nega sua identidade

Quando chega na cidade

Procura um "rabo de saia".

Matuto não nega lida

Sempre muito trabalhador

Pegado na ferramenta

Recebe do Sol o calor

Suor escorrendo no rosto

Cabo da enxada é seu encosto

Muitos desconhecem seu valor.

Ganha o dinheiro no duro

Mas não tem pena em gastar

Dia de feira sai da roça cedinho

E amanhece na porta dum bar

Bebendo pinga e cerveja

Dormindo em cima da mesa

Com baton na boca de tanto beijar.

Assim leva a vida matuto

Na roça ele vai vivendo

Gosta de jogo de bola

Pelas beiradas vai comendo

Na vaquejada corre bolão

Paquera a filha do patrão

De modo que ele não fique sabendo.

Alcançando a tecnologia

Aprende usar o celular

Quando não sabe escrever

Fica no áudio a gravar

Num envolvimento profundo

Se comunica com todo o mundo

Mas nunca deixa de "matutá".

Todo matuto têm sonhos

Um vem bem por primeiro

Sonha um dia ficar rico

Tornando um grande fazendeiro

Ter um pasto cheio de gado

Uma bela mulher do seu lado

E ser campeão de rodeio.

Todo matuto acredita em santo

Santo Antônio Casamenteiro

São Pedro e São Francisco

Mas, São João é seu padroeiro

Na sua terra é Santa Luzia

Que nas procissões ele ia

Fazer promessa pro ano inteiro.

Matuto é semente da roça

Um cara sempre divertido

Se pensa que matuto é bobo

Por isso ele não fica ofendido

Matuto é cabra valente

Sertanejo sempre resistente

Homem honesto e bem vivido.

E assim vai seguindo a trilha

Respirando a todos sem insulto

Uns podem ser "catueiros"

Outros até homens cultos

Mesmo vivendo na roça

Seu caráter é a resposta

Então, respeite seu jeito de matuto.

Marivaldo Matos Abreu
Enviado por Marivaldo Matos Abreu em 25/05/2019
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