Didática Educacional

Quando eu era menino,

Não gostava de estudar,

Praqui, pralí, pracolá,

Pense num cabra traquino...

Era o próprio desatino

Para minha professora,

- O cão! Para a diretora

Todo dia era um bilhete

Entre conselho e cacete

Uma vida promissora...

Todo homem com moral

Certo dia foi criança

Não sai da minha lembrança

O conselho paternal,

Meu pai, intelectual

Na roça fez doutorado,

Montador de burro brabo,

Sempre nos deu bom conselho

Era pra mim um espelho

PHD no roçado.

O meu velho certo dia

Homem de experiência

Com a sua sapiência

- Vou tirar dessa agonia;

Era tudo que eu queria,

Bem no começo do ano

Montei um monte de plano...

--Vou tomar conta da roça

Mas, me botou na carroça

E o plano foi chacoalhando.

Chegando lá no curral

Me apresentou às vacas:

Essa aqui é a Quebra-Latas,

Granadeira e Bacural,

Aqui é a Temporal,

Essa é a Peito de Alicate,

Aquela é a Bacamarte

E a Desconta Pecado;

Decore o nome do gado

E comece o seu embate.

Fui desleitar Nevoeiro

Esqueci-me da Canhão

Pense numa confusão

Corri o curral inteiro,

Por mais que eu fosse ligeiro

Não consegui escapar

A vaca pra me pegar

Escanchou-me suas pontas,

Pai viu que eu não dava conta

Aí correu pra me salvar.

Todo dia madrugada

Tecia os mesmos trabalhos

A chuva caia aos galhos

E corria em enxurrada

Eu, na lama encharcada,

Vez por outra, mais um tombo,

Os pingos, correndo ao lombo

Só tinha vaca coicera,

A pior era a Caideira,

Cada coice, era um calombo.

Por conta da chuvarada

A roça virou mufumbo,

Eu, naquele fim de mundo

Me deparei com a enxada

E tive que ouvir piada

De um diarista perneta;

Essa aqui é a “caneta”

De quem não quer estudar

E você só vai parar

Quando eu tocar a corneta.

Tinha uma tal de urtiga

A desgraça pra coçar

Mas tinham que me lembrar

Ordem é pra ser cumprida

E jamais ser discutida;

Pense nuns dias compridos

E também muito sofridos

A água só nos corotes

Que enchíamos lá nos potes

Que ficavam nos abrigos.

A coisa foi piorando,

- Juro pela minha alma!

Comecei a cortar palma

Quando a seca foi chegando;

De alegria só quando

Tomei conta do chiqueiro

Como sempre fui ligeiro

Peguei logo intimidade

C’ umas marrãs, sem maldade!

Era meio presepeiro...

Pra cacimba me jogaram

Em meados de Agosto

Imaginem se sou frouxo?

Isso aí foi meu sudário,

Um calor incendiário

Eu encarava o bogó,

Os braços já davam nó

De tanto puxar galão

Os calos ferviam a mão

E dalí para pior!

O final daquela esfola

Parecia não chegar

E eu querendo voltar

Para minha “amada” escola

Quando um dia, certa hora

O meu pai foi encostando

Aí veio perguntando

Quer rever o seu caderno?

--Quero é sair desse inferno!

E fui logo lhe implorando.

Bem na lata respondeu

Para enfim, você voltar

Precisa então acabar

Esse tempo “fariseu”

Que resseca os sonhos meus,

Das dardejadas do sol,

Pegue o gancho feito anzol

Pra cortar mandacaru

Depois vá pro canapú

Debulhar lá no paiol.

Hoje tenho formação

No calor, que eu aprendi

Respeito Freire e Darci

E as teses de educação;

Mas, seguro a opinião

Se for guri relaxado,

Se o caso for complicado

Não querendo estudar

Leve o mesmo pra passar

Um bom tempo no roçado.

Ticiano Félix.