CORDEL À PRINCESA ISABEL

Um dia,lá nos idos da História

Nas páginas de bem antigamente

Nos houve uma caneta notória!

Que arrebentou as correntes.

Os livros então registraram

À moda do que lhes carecia

O fim do que se procedia…

-Extinta estava a escravidão!

Dentre o que só parecia…

Em meio ao tudo que urgia!

Na ânsia de se viver a poesia…

Sem versos de indignação,

Solfejos dum poema seguia

Ao que não se constataria:

O Homem a libertar seu irmão.

Algemas vindas do velho mundo

Que aqui traficavam o absurdo

As tantas vidas pendentes

Na dor das almas carentes!

Tolhida por correntes indigentes

Rumando sem nenhuma vertente.

O dia de hoje saúda

O marco do treze de Maio

Nas letras da nobre Isabel

A lei que seria extinta

Depois de ter sido inserida

Nos autos duma História de fel.

O fim dum período cruel?

Final dum período dantesco

Que nos colocou pelo avesso

De ventres deteriorados,

Sem mesmo chegar, condenados.

Escravos de tamanha desgraça

De vida toda açoitada…

Fazer-se nascer soterrados

Destinos de tantos roubados

Jamais foram concretizados!

O tempo rolou pelas horas

Retratos das vidas inglórias!

De rumos não bem definidos,

Caminhos sem claro sentido,

O que só retocou as feridas

Das tantas correntes lançadas

Ao meio, ainda trancafiadas;

Em nome da modernidade

Liberta estava a liberdade!

A percorrer nova História

Sem nenhuma promessa de glórias!

Pela falsa bondade vigente.

Às liberdades emergentes

Algemas das falsas correntes.

E as gentes seguiram indigentes…

O enredo que poetou Castro Alves

O mesmo dos gritos estridentes,

Na nau que seguia doendo

Seu sangue nas águas vertendo…

Em versos munidos de golpes

Das tantas realidades pungentes…

Dos homens reféns, o debalde

De vidas carentes e doentes.

Em meio às falácias eloquentes

Arquétipos dum todo indecente.

O tudo que se vê hoje em dia…

Nos becos, nas ruas e esquinas,

A nos provocar a agonia,

Dum premente verso em analogia

No chão dos navios traiçoeiros

À deriva dos interesses certeiros;

Correntes de todas as cores

No vão invisível das dores.

Só gente açoitada e ferida

Jazendo nos conveses da vida.

O tempo então recontou

Por dentre eras de “progresso”

Na sina do Homem em questão

Que sempre haveria correntes

Visíveis da vã realidade

E invisíveis da toda maldade…

Num tempo que seguiria

Donde nunca saudade haveria.

De se ter sonhado um dia…

Que a mão à caneta que assina

Poupasse-nos também das mentiras,

Das falsas verdades assassinas:

Das vindouras correntes aguerridas.

Surgiram-nos cadeados insondáveis

Que aqui os coloco em questão

Cordel em homenagem à premência

De toda clarividência,

Poema do sotão dum chão.

Pergunto: das tuas correntes

Que nesse cordel qual vidente

Eu tento chamar-te a atenção

A elucidar minha questão:

Tu és mesmo um ser libertado

De todo cenário algemado

De tantas correntes prementes

Que engessam o peito da gente

Nos cenários de tantas aflições

A encarcerar os corações?

Ainda és fiel depositário

De todo teu verso logrado

Dos teus ossos tão triturados

Ao pó das tuas aflições?

Em meio às peles desnutridas

De toda essa vida à deriva,

Por que tantas resignações,

Por que calas tuas indignações?

Qual é a tua corrente da hora

É a que toda máquina implora:

O domínio da tua opção?

Ou o roubo da tua noção?

E a tua corrente mais dura

É resfolego da tua eterna clausura?

É o grito da tua clemência

Emudecido no outrora,

Ou a dor da tua carência

Sentenciada nas togas?

Qual é a tua liberdade,

Morrer em plena cidade

Nas vias ofertadas, debalde

Da tua conscientização?

Tu vais por quais dessas vias?

Nas vias das patinetes…

Ou naquelas que te jogam confetes?

De bus, de bike, ou metrô

Ou a pé, esmagado no horror

Naquele que segue nas vias

Que fazem da tua dor toda orgia?

Ou tem sido tua liberdade

A de andar só pela tangente

Dos que te puseram correntes

Do tudo que te negaram

Mas que te levaram contentes

Dos tempos de tenaz implosão?

Olhaste a tua situação!?

Seria a tua liberdade

As tuas centenas de “likes”

Plantados pelas vias de fato

Da tua hipnotização

Nas correntes da televisão?

Ou o fake de qualquer noticia

Da Web, trabalhada na mídia

Que visa tua alienação?

Ou então só postar pelas redes

A ânsia de toda tua sede

Nos memes,

Mas só dos irreverentes…

Ser dono de todas as mentes!

Que encenam o teu falso poder.

De ser tu plena liberdade…

Um ser solto na tua ansiedade,

Mas logo ser bem deletado

Pelo mundo douto plugado

Do patético e algemado cenário?

E tão tarde resolver ser prudente:

Só um ser de liberdade aparente…

Ao teu mínimo romper das correntes.

Seria a tua liberdade

Uma Ilustre tão desconhecida

Que nem a ti mesmo, vencida

Respira um sopro de vida?

Termino aqui meu cordel.

Mas antes uma sincera homenagem

Sem nunca ser verso miragem,

À nobre princesa Isabel

Declaro meu acorrentamento

No triste algemar do momento:

Às tantas escravidões

Que fazem do meu verso um lamento,

Às dores dos corações

Que pulsam os tantos desalentos.

A todos os encarceramentos

Do verso essencial aos tormentos.

Só mais uma menção em epílogo

Do que é verso interminável:

Qual é a tua escravidão

Na História hoje em rescisão

Da liberdade em questão?

Do que nos é fundamental

Na História do bem e do mal:

Consegue só por um momento…

Ser livre o teu pensamento?