Mote: Não há quem faça por mim as coisa que mamãe fez
Mote:
Não há quem faça por mim
As coisas que mamãe fez.
(Tião Simpatia e Dideus Sales)
I
O ser mãe é diferente
De todos os outros seres
Dona de múltiplos saberes
Fonte que dá vida à gente
Sente o que ninguém mais sente
Não cultiva insensatez
Ela nunca será “ex”,
Pois seu amor é sem fim.
Não há quem faça por mim,
As coisas que mamãe fez.
II
Minha mãe é igualzinha
A todas as outras mães,
Ama os filhos como os cães
Amam seus donos, sem rinha
Tem nobreza de rainha
Em tudo tem altivez
Desde a sua gravidez
Até hoje é sempre assim
Não há quem faça por mim,
As coisas que mamãe fez.
IIII
Escondeu minha viola
Para papai não quebrar
Quando eu comecei cantar
Lá na nossa fazendola,
Me mandou para escola
Eu já grande, aos dezesseis
Papai não era freguês
De música, cultura, enfim,
Não há quem faça por mim,
As coisas que mamãe fez.
IV
E quando papai brigava
Por alguma danação,
Mamãe dava proteção
E em mim ninguém tocava,
Nos braços me aconchegava
Dava um beijo, dois ou três,
E papai por sua vez
Virava um estopim...
Não há quem faça por mim,
As coisas que mamãe fez.
V
Não é que eu goste mais
Da mamãe que do papai,
Por que nada subtrai
Meu amor pelos meus pais,
Mas os dois não são iguais,
Podem ser perante as leis,
De papai ouvi “talvez”,
De mamãe só ouvi “sim”.
Não há quem faça por mim,
As coisas que mamãe fez.
VI
Mamãe, mulher decidida,
Desvelada e coerente,
Defensora intransigente
Da sua prole querida,
Me fez enxergar a vida
Com muito mais nitidez,
Seu carisma e lucidez
Me lapidaram assim.
Não há quem faça por mim,
As coisas que mamãe fez.
VII
Toda mãe que ao filho mima
Dá amor e diversão,
Pra que eu fosse a um chitão
Na casa de minha prima
No sítio Várzea de Cima,
Minha mãe com gosto fez
A camisa de xadrez
E a calça curta de brim.
Não há quem faça por mim,
As coisas que mamãe fez.
VIII
Ela soube me ensinar
Caminhar no rumo certo,
Seu exemplo, um livro aberto
Ricas lições a me dar,
Até para reclamar
Falava com polidez,
Expunha com sensatez
Tudo, tintim por tintim.
Não há quem faça por mim,
As coisas que mamãe fez.
IX
Dizia-me com brandura
Quando eu saía do trilho,
Tenha cuidado meu filho,
Não ande em vereda escura,
Mantenha sempre lonjura
De boêmio e de burguês,
Não quero vê-lo freguês
De balcão de botequim.
Não há quem faça por mim,
As coisas que mamãe fez.
X
Minha mãe tinha grandeza
Em não demonstrar ressábios,
Sorvi seus conselhos sábios
Dados com delicadeza,
Parecia uma princesa
No porte, na intrepidez,
Imprimia altivez
Com doçura de alfinim.
Não há quem faça por mim,
As coisas que mamãe fez.