A CHEGADA DE LAMPIÃO NAS BODEGAS

Muita gente conta causo,

Do famoso Lampião

O Capitão Virgulino,

Chamou o povo a atenção,

Tornou-se o rei do cangaço,

Mais temido do sertão.

O seu bando era valente,

Chamava cabras da peste,

Armados de cartucheira,

Lampião era o seu chefe.

Dia e noite nas estradas,

Cortando todo Nordeste,

Nas paradas pra descanso,

Tinha alguém que vigiava,

E qualquer ruído estranho,

O bando se levantava,

Armados até os dentes,

Em posição esperava.

Na caatinga ou no agreste,

Tem uma bodegazinha,

Bem na beira da estrada,

Onde vende a cachacinha,

Com limão sem ser gelada

Tira gosto, era passarinha.

Certo dia Lampião,

E o bando do cangaço,

Chegou a uma bodega,

O seu dono, Zé de Aço,

Chega ficou tremendo,

Padim Ciço o que faço?

Lampião pegou o cabra,

Que estava com fadiga,

Com medo o Zé de Aço

Sentiu frio na barriga.

Bota pinga com farinha,

Capitão não quer intriga,

O Zé disse: não tem,

Só tem leite Capitão,

Lampião rastou o punhal,

E cravou no coração,

Quem bebe leite é bezerro

Respeite o Capitão.

Outra vez no Ceará,

Na Fazenda Aroeira,

O capataz ouviu longe,

A canção Mulher Rendeira

Era um cabra assoviando,

E aquela gargalheira.

Seu Capitão tá ouvindo?

Perguntou o Volta Seca,

O capitão disse: eu tou,

Passou a mão na cabeça,

Vamos chegar pra mas perto,

Antes que o dia amanheça.

“Lampião desceu a serra”,

O Capitão percebeu,

Deu um suspiro tão forte,

Que a terra estremeceu,

Disse: assubia a noite toda,

Ou eu corto o beiço teu.

Assubia cabra da peste,

Pra eu não matar você,

Vai dançar homem com homem

Não me pergunte por que,

Assubia mulher rendeira,

Seu cara de Saruê!

Tinha uma senhora de idade,

Que morava num ranchinho,

No sertão de Pernambuco,

Afastado do caminho,

Onde o capitão pernoitava,

E a tratava com carinho

Mas a velha fofoqueira,

Falava com Manezinho,

Que Lampião dormiu lá,

E lhe deu um trocadinho.

Veja que amigo da onça,

Era também seu vizinho.

Tome essa pedra amarela,

Isso aqui é rusargá,

Bote um pouco na comida,

Antes de o bando chegar,

Vai morrer envenenado,

Antes da cana chegar.

Não é que a velha fez,

O que Manezinho falou!

Aprontou uma galinha,

E na panela botou,

O tanto do rusargá,

Como o vizinho ensinou.

Lampião não era besta,

Sempre andava preparado,

Com uma colher de prata,

E um punhal niquelado,

Chega na casa da velha,

No horário costumado.

Minha veia o que tem,

Para esse amigo seu?

Tem galinha a molho pardo,

A velha assim respondeu.

Lampião pôs a colher

E a mesma empreteceu.

Minha veia o que é isso,

O que foi que aconteceu?

Nada meu fio é tempero,

Como o cheiro rescendeu!

E Lampião disse: coma,

Depois quem come, sou eu.

A velha ficou nervosa,

O sangue ferveu na veia.

Vai comer essa galinha,

E depois comer areia

A velha comeu e caiu

Lampião gritou: passeia!

Numa bodega em Exu,

Encontrou o Gonzagão,

Cumprimentou outro rei,

Dando um aperto de mão,

Disse: toque Mulher Rendeira,

Mas outro, não toca não

O Capitão em queimadas,

No interior da Bahia,

Fez valer a crueldade

Veja a sua ousadia,

Fez comer banana verde

O juiz da freguesia.

No café de Lampião

Com cuscuz era servido

Um capataz falou baixo:

Tá sem sal e mal cozido

Pegou sal sem dó e deu

Disse: coma atrevido.

Em todo sertão nordestino

Lampião teve um roteiro

Encontrou Luiz Gonzaga

Esse grande sanfoneiro,

Padre Cícero Romão

Quando foi em Juazeiro.

E assim caro leitor,

Vivi a inspiração,

Das bodegas, onde passou,

Virgulino, o Lampião,

Produzir este cordel

Patrimônio da nação.

Jorge Galdino
Enviado por Jorge Galdino em 09/05/2019
Código do texto: T6643224
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.