TURMA DOS ANOS 80 PROMOVE REBELIÃO!

(Poema dedicado aos amigos e ex-colegas do Curso Técnico em Contabilidade do Colégio Estadual de Senhor do Bonfim nos anos 80).

O Colégio Estadual

Lá de Senhor do Bonfim

Sempre foi um bom exemplo

E não somente pra mim

Onde aprendíamos bem

Tudo tim-tim por tim-tim.

Ex Colégio dos Maristas

Prestigiado no ensino

E disciplina exemplar

Somente para meninos

Ao passar para o Estado

Entrou menina com tino.

Estudos ornamentais

E brincadeiras cruéis

Vivendo e conhecendo

A vida com seus revéis

Aprendendo muitas coisas

Que vão além dos papéis.

Me diga quem é que hoje

Não ‘tá entendendo nada?

Nossos mestres nos abriram

A boca sempre fechada

E os olhos pr’um novo mundo

Até então de fachada.

A matemática era o forte

Para a Contabilidade

Curso que era obrigatório

Para os jovens da cidade

Que queriam um bom futuro

E tinham responsabilidade.

Darcy e Antunes eram

Reis das ciências Exatas

Jorge Ivan com os esportes

Esquentava a batata

Dando mil voltas na quadra

Para suar a regata.

Com o futebol na quadra

Campeonato e treinamento

O Intercolegial

Era o grande momento

Da nossa escola pública

Mostrar que tinha talento.

Contra o Izabel de Queiroz

A Sacrá e o Diocesano

Éramos os campeões

Se acaso não me engano

Tínhamos grandes atletas

Vencedores ano a ano.

Jacira e Carmelita

Mariazinha Jatobá

Moema e Terezinha

Pastor Orlando a pregar

Fernando Dantas e Falcon

Não cansavam de cobrar.

Aníbal e Georgina

Feras na nossa cidade

Tinha estágio certeiro

No Rocha Contabilidade

Débito e crédito volátil

Não tinha mediocridade.

Os funcionários também

Faziam a nossa alegria

Dona Hermínia e Pedreirinho

Impediam a anarquia

E na Cantina do Ruy

Quem tinha grana comia.

Muitos casos e paixões

Platônicas e realistas

Que somente a juventude

Com espírito hedonista

Tem coragem de viver

De forma imediatista.

Saliências e ousadias

Entre decotes e fendas

Olhares libidinosos

No recreio e na merenda

Quem passasse dos limites

Pagaria uma prenda.

Tinha que furtar revista

Na banca do Damião

Atirar no tiro ao alvo

E gritar as Militão

Passear nas 7 Casas

E namorar na estação.

Os jovens daquele tempo

Não eram alienados

Apesar da ditadura

Viviam já preocupados

Com o futuro da nação

E o povo explorado.

Tinham solidariedade

Com todos os oprimidos

Seja por fé ou política

Eram também bons ouvidos

Numa corrente do bem

Ninguém era esquecido.

Conviviam nas boates

Aquários e Pirilampo

No Arara Disco Clube

Eu só pegava sarampo

Já a Taba do Cacique

Tinha um espaço amplo.

Os parques lá na Gambôa

Com o serviço de som

Girava a roda gigante

Algodão doce e batom

De mãos dadas e coxas juntas

De lá do alto era bom.

Namorador era Nilson

Mesmo feio e sem carro

Mulheres o disputavam

Até que entrou num esparro

Com uma mulher tarada

Lá no distrito do Barro.

O Washington e o Wagner

Eram os sábios em tudo

Tinham bom vocabulário

Nunca foram topetudos

Na casa da pró Moema

Jogavam xadrez e ludo.

O Zezinho era galã

Com o Sérgio Vilas Boas

O Batista até tentava

E dava risada à toa

Com Marquinhos Mangabeira

No Chafariz da Gambôa.

Quatro homens entre dez

Afirmam já ter brochado

Os que estão entre os seis

Chamam os outros de ‘viados’

Mas esta homofobia

É despeito encubado.

O São João na Praça Nova

Com o carro da Pitu

Foi a nossa melhor época

Com turistas lá do Sul

Até o Jornal Nacional

Mostrava a limalha azul.

E no Alto do Cigano

Cemitério e Maravilha

O povo se organizava

Preparando as quadrilhas

E a Roda do Palmeira

Iniciou esta trilha.

A guerra era na praça

Em frente à Estação

Os corajosos desciam

Já os precavidos não

Da balaustrada assistiam

Com grande admiração.

Luciene e Itamar

Nilsinho e Misael

Tiveram a boa idéia

E sem fazer escarcéu

Criaram um grupo no zap

Pra reunir o povaréu.

Sempre alertando a todos

Pra não falar de política

Futebol religião

Que a violência instiga

Temas que deviam unir

Acabam sempre em briga.

Vermelhos e amarelos

Precisam logo entender

Que o mundo é diverso

E multicor, podes crê,

E que o bom na vida pública

É só transparente ser.

Exigimos pratos limpos

Não importa se cuspidos

Nem jogar favor na cara

De um antigo amigo

Em nome de ideologia

Político doido ou bandido.

Nilson e também Misael

Reconvocaram Geraldo

Que se acertou com Elias

Tomando um copo de caldo

De cana na Feira Livre

Concluindo o rescaldo.

Nem ligamos se o Brasil

Segue como uma biruta

Ou se a nossa Bahia

Finge viver grande luta

Nem se Senhor do Bonfim

É terra que se disputa.

Ninguém pôde falar mal

Dos erros da prefeitura

Do bolo de meio milhão

Nem mudanças na estrutura

Do mercado e da feira

Que estava uma feiura.

Nossa Agente Federal

Ferrenha investigadora

Fuçou redes sociais

Sua auxiliadora

Encontrou os irmãos Gonçalves

E foi ameaçadora.

Nilsinho tremeu nas bases

Mesmo sendo um livro aberto

Misael quis ser gaiato

Dando uma de esperto

Ofereceu um jantar

Mas seu golpe não deu certo.

Luciene afirmou

Não ser dona da verdade

Mas gosta de dar notícias

Fake news é uma maldade

Ela refuta mentiras

Paulo Cleuber é quem bem sabe.

Com quase 10 mil mensagens

E mais de 80 contatos

O grupo de whatsup

É um verdadeiro internato

do Colégio Estadual

Virtual e caricato.

Foi no fim da Ditadura

Que esta turma se formou

Entre 80 e 85

E nunca se separou

Pequenos e grandes laços

A distância os rejuntou.

Alugaram um espaço

Para se reencontrarem

E fazerem um forró

Pros bons tempos relembrarem

Com ex-colegas e amigos

Recordarem e dançarem.

Os coroas renovados

Com a tecnologia

Se comunicaram e

Com bastante energia

Decidiram resgatar

Seus tempos de rebeldia.

Luciene informada

Depois que deixou a Rainha

Passou a criar notícias

Deixou de ver novelinhas

E me contou esta história

Que é cheia de mentirinhas.

No vai e vem das mensagens

Ficamos sabendo então

Que tinha um promotor

Metido a valentão

Que queria acabar

Com a nossa tradição.

Mandou até prender gente

Honesta e trabalhadora

Pois o fogo de artifício

Tem força avassaladora

E ele iria acabar

A tradição pecadora.

A espada de São João

Não é artefato bélico

Tire isso dos seus autos

Não seja maquiavélico

Empatando a nossa festa

Com o dedo proctocélico.

Preocupados com a nossa

Maior tradição junina

Que é a guerra de espadas

Pra meninos e meninas

Foi proposto um encontro

Lá na casa do Zé Lima.

Pra facilitar a ida

De todos para o encontro

Nilson liberou uns carros

E quando estavam prontos

Seguiram para a cidade

E partiram pro confronto.

Decidiram ocupar

O Fórum Ruy Barbosa

Mostrando que não estavam

Nem um pouco para prosa

E que a ação do promotor

Era muito vergonhosa.

Ele tinha que acabar

Aquela proibição

Liberar o show de espadas

Cada qual com uma na mão

Sem queimar ninguém na rua

Nem as paredes em vão.

O Pastor Bartolomeu

Veio com um anjo de farda

O Comandante Pimentel

Que sempre está de guarda

Trouxe o seu pelotão

Pra ficar na retaguarda.

Euraves de aeronave

Chamou Ozeni pra lua

Trazendo o pão integral

Que era uma produção sua

Eliana Aragão

Ficou decorando a rua.

A Cristina trouxe um bode

Ensopado com pirão

Eliete perguntava:

“Quem é esse seu irmão?

Eu moro lá na Gambôa

E não lembro dele não”.

Itamar em sua clínica

De cura hemorroidal

Kukisangra em japonês

Achava tudo normal

Pois lá ele se diverte

Fazendo o toque retal.

Afrânio com um tabuleiro

Desafiou o ‘dotô’

Para um jogo de xadrez

Mas o homem declinou

Alegando ser da paz

E apenas promotor.

Misael do Mineirim

Mostrou sua lingüiça fina

Com torresmo bem crocante

Pra alegria das meninas

Que não bebiam cachaça

Só tomavam cajuína.

Quatro entre dez mulheres

Já foram assediadas

Mas as que estão entre as seis

Acham as outras descaradas

Que ficam flertando os homens

Com as saias encurtadas.

Lane ofertou roupas

Somente pra quem é plus

As magrinhas com ciúme

Danaram a comer cuscuz

Pois a Lilás Modas é top

Em tons rosas e azuis.

Todas as meninas do grupo

Se sentiram empoderadas

Esqueceram do batom

E das roupas arrumadas

Foram pro meio da rua

Conscientes e empolgadas.

Norma e Maria José

Mirtys Teca e Gorete

Gisélia Ceiça e Diva

Leda Lucy e Niuzete

Giselda Célia e Nice

Meires Flávia e Elizete.

Analice e Lindnalva

Edileuza e também Sandra

Com Adila reclamaram:

“Aqui ninguém é malandra

Vagabunda periguete

Nem piranha ou salamandra”.

Para acalmar as meninas

Luis Alberto interveio

Com Naldinho e Francisco

Raulino foi pro meio

Edson Murilo e Raimundo

Aumentaram o bloqueio.

Com uma antena digital

Enfiada em sua perna

Arlênio até desejou

Uma juventude eterna

Mas Verbênia amenizou

Com uma mensagem terna.

Verbênia exuberante

Com um sorriso estampado

Animava qualquer grupo

Em que ela estivesse ao lado

Só não gostava daqueles

Que queriam ser tarados.

Eva abandonou o Éden

Numa moto envenenada

Atravessou o Sertão

Como sempre apaixonada

Pela vida e a liberdade

Que não deve ser podada.

Zezinho nos comoveu

Tava desaparecido

Junto com o irmão Assis

Nunca foram esquecidos

O atleta e o galã

São por todos bem queridos.

Zé Carlos veio com Arlênio

Tocando o seu violão

Gritando no meio da turba:

“Viva! Viva São João!”

Só rolou Trio Nordestino

Dominguinhos e Gonzagão.

Marcos Mangabeira alegre

Balançava a sua pança

Todo mundo tinha inveja

Da sua exótica dança

‘Tá velho e sobrepesado

Mas o seu corpo não cansa.

Nando atirou na perna

Fugindo de um Diretor

Junto com Ita e outros

Tomou banho de cocô

E depois dessa façanha

Futebol jamais jogou.

Eliar com a bateria

Chegou com a corda toda

Espalhando alegria

Comemorando suas bodas

Johnson é Ignorante

Quem não gostou que se exploda.

César e Juju mandaram

Lá do Cristo Redentor

Um abraço para todos

E o Vidal reclamou

Que na Caixa Econômica

O alarme disparou.

Apelaram pro Agnaldo

E no Bar Uirapuru

Comeram uma buchada

Para matar o jejum

Caminharam até à feira

Pra comer doce de umbu.

Nerival trouxe um cesto

De pão pra distribuir

Quem não estava com fome

Começou logo a sorrir

E no meio da confusão

Danou-se a distribuir.

Bobô foi nosso colega

E um grande jogador

Hoje como deputado

Quer mostrar o seu valor

Mas ficou de longe olhando

E não se pronunciou.

Manga recuou também

Com Orlandino uns passos

Pra evitar a violência

Mesmo dentro do compasso

Os amantes da estrela

Não queriam embaraço.

“Caminhando e cantando

E seguindo a canção”

Foram todos para a rua

Em busca de solução

Para a nossa cultura

E também pra Educação.

Com o poder das orações

Das meninas deste grupo

E as atitudes rudes

Dos meninos mais abruptos

Fizeram um show de espadas

E ninguém ficou de luto.

Convenceram o promotor

A manter a tradição

Ninguém queimaria o outro

Iam de espada na mão

Fazendo a grande festa

Em respeito ao cidadão.

O Grupo Anos 80

Promoveu rebelião

Pela guerra de espadas

Nossa maior tradição

Com o forró pé-de-serra

Pra não ter decepção.

Salvador, 06 de maio de 2019.

Jotacê Freitas - Vulgo Bolacha.