Boqueirão, o meu altar
Airam Ribeiro
O galho da árvore é meu banco
A minha oração é meu prosiá
Frases muito simples, sou franco.
Mas sei que dá pra Deus me escutar
Com o pensamento nas montanhas
Não é preciso nenhuma artimanha
Para a oração eu formular.
Pai que estás em todo lugar
Vejo-Te naquela nascente
Nas notas musicais, no cantar
No verde aqui deste ambiente
Da-nos força para poder plantar
Com as chuvas que está a mandar
Pra poder vingar a semente.
Obrigado que eu possa ver
O verde que banha o bouqueirão
As árvores que estão a crescer
Com suas raízes fincadas no chão
Pelo tiquin de terra que me destes
E pela pintura que Tu fizestes
Enfeitando assim o meu grotão.
Obrigado que eu possa escutar
As zuadeiras que faz os passarim
Do caga sebo e até mesmo do sabiá
Pois eu sei que estão cantando para mim
Do som do avião passando no céu
Da intuição pra eu compor o cordel
E do vento me dizendo que não é o fim.
Pai, com este altar que vejo.
Só tenho é que Te agradecer
Palavras lindas até que pelejo
Pra enfeitar assim os meu dizê
Mas quá, dexa eu cá cum a simplicidade
Pois Tu sabes o que qui digo é verdade
E do que tenho para Te oferecer.