TEMPO DE INVERNO

Quando a chuva alvejava no nascente

Ia embora o sol quente como brasa

O cenário ficava diferente

Logo a chuva batia em nossa casa

Quando a água nas telhas escorria

Minha mãe colocava uma bacia

Aparando as goteiras do telhado

E no ritmo dos pingos simplesmente

Tinha um mundo mais farto para a gente

Que depende das coisas do roçado.

Quando a chuva afinava a gente ia

No percurso das águas nas estradas

Via então muitas cercas derrubadas

Pela força da água que descia

Os relâmpagos, por nós, eram temidos

Eu, criança, tapava meus ouvidos

Assustado com medo do trovão

A barrocas viravam cachoeiras

O cenário das boas brincadeiras

Dos meninos da minha geração.

Eu botava um pontinho lá no rio

Para saber se as águas aumentavam

E as sandálias da gente se enganchavam

Afundadas na lama do baixio

As benesses da nossa agricultura

Nossa mesa com muito mais fartura

Nosso bichos sadios e nutridos

As estradas bem mais esburacadas

As sementes na roça germinadas

Nossos campos bem verdes e floridos

Tomar banho de açude todo dia

Para nós era grande diversão

Amarrava cabaças com cordão

Pra nadar e se ter mais garantia

Névoa em serras um pouco mais distantes

O aroma dos campos verdejantes

Exalando pra nós sua fragrância

No açude as baixas desaguavam

Os cantares dos pássaros completavam

Nossa trilha sonora da infância.

Tempos bons, onde tudo era fartura

E a vida passava sem ter pressa

Quem nasceu e cresceu entre a natura

Diz-se, então, que já foi feliz à beça

Se fartando de umbus, pitombas, atas

Vendo o verde tomar conta das matas

E a babugem cobrir o nosso chão

Parecendo um tapete esverdeado

Que com flores deixava enfeitado

O cenário da nossa região.