Toque o fole que a dança vai começar
Senhoras e senhores
Eu preciso de atenção
Vou contar belas histórias
Nascidas no coração
Do tempo de antigamente
Com cheirinho de emoção
Do tempo da lamparina
Acesa na boca da noite
Nos terreiros das casas
Sob o céu de mui amores
Quando a gente se reunia
Pra compartilhar sabores
Se você então duvida
Eu já sei o que fazer
Pegue aí um tamborete
Vou contar para você
Arregale bem os ouvidos
Para nada se perder
Ainda eu nem conhecia
As letras do belo ABC
Quando escutava longe
Os arrastados chinelês
A voz rouca do marcador
Ordenando um balancê
Os corpos todos arretando
Na vez do alavantu
Um batido de palmas
Um vai eu, depois vai tu
Na volta do anarriê
Todos pareciam um
Meus olhos faiscavam
Do tamanho da alegria
Diante de tanta algazarra
Na dança da quadrilha
Eu saltava de mim mesmo
Pelo tanto de euforia
O toque da zabumba
Era o meu coração
Quando na russiana
Todos davam as mãos
Para não errar o passo
Nem o compasso da canção
Depois vinha a ciranda
Na harmonia dos pés
Ninguém queria errar
Na cantiga dos anéis
Vinda do fundo do mar
Para saudar os menestréis
A mão direita na frente
A esquerda quem puxava
O brincante ia rente
Pra não perder a puxada
A voz toda potente
Da ciranda bem tirada
Num salto já era coco
O toque da embolada
O corpo já todo solto
Na roda feita do nada
No salto do escambirobiro
A alegria era uma rajada
O fôlego todo esbaforido
Com as palmas ritmadas
Na hora que os umbigos
Se uniam nas umbigadas
Eita coco de zambê alegre
Dançado naquela praia
Adiante a puxada de rede
Dos capoeiras de cima
Uns matando a sede
Vinham tomando birita
Água que passarim injeita
Fincando o pé na sina
A calunga enfeitada
Fazia a anunciação
Seguida do embaixador
Do maracatu nação
Debaixo daquela umbrella
Rei e rainha davam as mãos
O toque do baque solto
Elevava minha alma
Vibrando todo meu sangue
De brincante viv'alma
Seguindo atrás do cortejo
Na coreografia dada
No pátio da igreja
As cores azul e encarnado
Dividiam as pessoas
Cada uma pro seu lado
Esperando o pastoril
Ali ser logo encenado
De um lado a mestra
Animando seu cordão
Com flores, fita e canto
Pedindo a permissão
De arrancar belos sorrisos
Dos seus fãs de coração
Do outro, a contra-mestra
Distribuindo simpatia
Chamando seu cordão
Pra dançar com alegria
Era um doce de pastora
Que no canto resplandecia
A Diana sempre no meio
Mediano os dois cordões
Sem tomar um partido
Pedia as vibrações
De eleger o mais querido
O mais animado pilotão
A cigana queria dinheiro
Na bandeja depositado
Vendia sempre a sorte
Pra cabra besta enrolado
Por qualquer conto de réis
O destino era revelado
Na hora do velho Joca
A graça tomava de conta
Aperriando as pastoras
O danado bem apronta
Atirando para todos os lados
Tirando delas uma ponta
Mais lindo de se vê
Era a dança das fitas
Estirada no terreiro
Eita, coisa bonita
O toque do acordeon
Chamando por Santa Rita
Um entrançado medonho
De um lado ao outro
Misturando bem as cores
Num tapete de bom gosto
Depois se desfazia
As fitas em seus molhos
Apitando aqui dentro
Só o meu Boi Bumbá
Seguido da Catarina
Matheus e do Jaraguá
Dançando com os galantes
Até não mais aguentá
Era um bailado lindo
Do pelo se arrepiar
Quando pedia permissão
Para ali se apresentar
Alevantando a poeira
Indo para outro arraiá
Pena você não saber
Das nossas tradições
Das danças do nosso povo
Espalhadas pelos sertões
A cultura mais linda e pura
Bordadas com muitas emoções
Se gostou, eu agradeço
Se não gostou, sinto muito
Falar de tudo isso
Para mim é um tesouro
Que carrego aqui dentro
Valendo mais que ouro
Agora vou me calar
Não tenho mais a dizer
Daqui para frente
Tudo é com você
Se gostou, passe adiante
Não deixe a cultura morrer
Marcus Vinicius - 21.04.2019