Canto da insônia
Uma parte que me parte,
Dentro desse coração
Um mar cheio de saudade,
Que dar grande comoção,
O peito sangra por dentro,
Sem motivo, sem noção!
Se é culpa da estação,
Dessa tarde chorosa,
A chuva que cai do céu,
Me deixa meio dengosa,
Enche o peito nostalgia
Como floresce uma rosa!
A noite chega magestosa,
As rãs cantam no alagado,
Poças de lama na rua,
Plagea o Sertão cantado,
É na cidade esse mural,
Perto do mar, amostrado!
Canto o cordel errado,
Por eu ser analfabeta,
Se intelectual eu fosse
A métrica seria a meta,
Desafino até meu cantar
E o crítico não me afeta!
Eu sou poeta incompleta,
Se parte o sentimento,
Digo que é saudade,
Se parte da dor, tormento,
Nesse meu peito vaziu,
O coração é meu alento!
Me vejo nesse momento,
Sorrindo na escuridão,
É noite no céu, na gente
É noite nesse mundão..
Me disperso nesta hora,
Dou-lhe beijo de paixão!
Bel Salviano