O SILÊNCIO
Por Gecílio Souza
Calar-se quando é preciso
A mais sábia posição
Momento em que o intelecto
Conecta-se ao coração
E daí nasce o diálogo
De suprema dimensão
Porque o idioma da vida
Se forma na introspecção
Pedagógico este processo
O homem é micro universo
Em contínua expansão
A consciente instrução
Vem do silêncio profundo
Ocasião em que o sujeito
Interpreta a si e o mundo
Os sentidos agem primeiro
E a razão age em segundo
A mente desencadeia
O raciocínio fecundo
Uma espécie de fermento
Ao genuíno pensamento
Que da alma é oriundo
O espírito vagabundo
Não é o melhor instrutor
Foge sempre de si mesmo
Qual soldado desertor
Vagueia-se pelos guetos
Falando seja o que for
Reluta em mergulhar-se
No próprio interior
Proclama-se inocêncio
Mas não suporta o silêncio
Pois ele é desafiador
Só o bom mergulhador
Navega a própria existência
O silêncio é seu artífice
Um mestre por excelência
Majestoso oceano
Da virtude e da prudência
Quem bebe no próprio poço
Vai à fonte da sapiência
Silenciar-se é uma arte
De levantar o estandarte
Que sustenta a irreverência
No recôndito da essência
O ser é o proprietário
E o autoconhecimento
Um exercício diário
A disposição de ouvir
É um feito extraordinário
Na escola do silêncio
A vida é um dicionário
Com seus verbos e conceitos
Dinamicamente refeitos
Nos limites do precário
Autêntico vocabulário
De verbetes especiais
O silêncio é rebeldia
Aos padrões convencionais
Diálogo de si para si
Sem etiquetas formais
Revoga a monologia
Pois as frases são mentais
A mente se fortalece
E o próprio ser reconhece
As lições fundamentais
Internos mananciais
Que jorram a todo vapor
Feitos tesouro escondido
De imensurável valor
Onde as sábias almas bebem
E recompõem o vigor
Pela magia do silêncio
O magnífico professor
Devolve a fala ao sujeito
Para que ele aja direito
E transforme o exterior
A volta do mergulhador
Instala a perplexidade
Pois retorna revigorado
No alto da autenticidade
O silêncio é reencontro
Com a própria identidade
O homem se reposiciona
E surpreende a realidade
Dessacraliza os padrões
Põe em cheque as convenções
Que permeiam a sociedade.
G. S.