O PODER DA POESIA
Por Gecilio Souza
Do bolso da minha camisa
Saquei a velha caneta
Surrada mas funcionando
Carregada com tinta preta
Tirei um bloco de papel
Que trazia numa maleta
Rabisquei umas palavras
O que me deu na veneta
E compus alguns poemas
Sobre a vida e seus dilemas
Os guardei numa gaveta
Cada verso é uma marreta
Batendo no interior
Pancadas silenciosas
Ocultam a mão do autor
Mas trituram a pedreira
Que alicerça o pavor
Os fragmentos pontiagudos
Impressionam o construtor
Que os retira com cuidado
Pois no fundo está guardado
O fértil grão do amor
Um ânimo preservador
Nos versos se consubstancia
O sentimento mais profundo
Se expressa na poesia
Ela se faz interlocutora
Da alma que estava fria
E então passa a entender
O que o coração pretendia
Mede o tamanho da dor
Que neutraliza o amor
E torna a pessoa vazia
Quando o coração sorria
Alegrava a alma inteira
E o amor via outro amor
Porque não havia pedreira
Desde que ela se interpôs
Estabeleceu-se a cegueira
E o amor deixou de ver
O outro amor na fronteira
Então chegou a poesia
Com um golpe de filosofa
E abriu uma porteira
O amor sacudiu a poeira
E na alma o sol raiou
O grãozinho se eclodiu
Em planta se transformou
O terreno pedregoso
De galhos se ensombreou
O botão da autoestima
Logo se desabrochou
Nasceu nova consciência
A poesia foi na essência
E o amor se resgatou
Assim que se libertou
Da pedreira que o cercava
O amor fortaleceu
Aquele que o cultivava
E foi lançando grãozinhos
Na terra que nada dava
À medida que crescia
Com o outro se comunicava
Rompeu a rigidez extrema
Se revestiu do poema
Pois era o que lhe faltava.