Monge nordestino
Nordestino é monge arretado
Quando vai tocar o gado
Tem uma calma de sábio
E quando falta água, medita
Para que na caatinga
O equilíbrio se faça
E a chuva caia.
A entoação do mantra
É o dedo de água ardente na manhã
Todo dia na mesma hora
Três goles enxoto goela abaixo
Para aguentar o empacho do dia
Mas nordestino não arreiga
Meio dia debaixo do sol
Faz uma prece
E três rezas.
Nordestino é monge arretado
Mas também é eremita
Indo pra São Paulo
Pensando que no centro urbano
Pode fazer a vida
Mas nordestino medita
E sente falta do seu teto
E vê quem em São Paulo não tem afeto
Nem trabalho.
Volta pra sua terra
Tocar o gado, na calma de sábio
Escrever cordel debaixo do sol árduo
Se faz o nordestino em sua missão
Nordestino é monge arretado
O seu templo é o sertão.