CADA REMEDIADO ESCOLHE SEU CAMINHO parte 1
(Sextilha estilo corrido)
Eu estava concentrado
Com trena, linha e esquadro
Passava do meio dia
Quando daí um bocado
Parou um rapaz do lado
Fui ver o que ele queria
O moço com atenção
De bicicleta e calção
Começou a se expressar
Vou contar para o senhor
O meu pai determinou
Que eu preciso trabalhar
Vendo o senhor trabalhar
Pensei em lhe ajudar
E um salário receber
Eu vendo a necessidade
Lhe disse fique a vontade
Vou recompensar você
O rapaz com a cara lisa
Igual lagoa sem brisa
Respondeu bem que podia
Mas hoje é segunda feira
Não tenho a semana inteira
Eu venho num outro dia
Eu tentei compreender
Pra pensar no que fazer
E tudo solucionar
Perguntei pela semana
Ele respondeu bacana
À noite eu vou estudar
Encontro-me com os amigos
Levo o celular comigo
Mas não penso em tabuada
Ainda vou me formar
E no dia que eu faltar
Eu peço pra namorada
É dura a minha semana
Eu não tenho toda a grana
Que preciso pra viver
Pai e mãe já tem emprego
E eu tenho o meu sossego
Para me desenvolver
Se precisam de ajuda
A minha coragem muda
Tenho cansaço e fadiga
Mas se for para um colega
Amizade ninguém nega
Tô até comprando briga
Começa na terça feira
Baralho, encontros, besteira
Pelas redes sociais
Na quarta feira também
Mas no resto da semana
A coisa aperta demais
Quinta e sexta é importante
Com som no alto falante
Combinamos pra jogar
Somos ninjas e assassinos
Matamos zumbis a tino
Eu sou bom em pontuar
Noite e dia vai passando
E a gente praticando
Na gelada e algo mais
Já no sábado à tardinha
A fumaça e as latinhas
Ninguém tá contando mais
No domingo eu durmo um pouco
Pois aqui ninguém é louco
A cabeça tá sem luz
Já de tarde eu incomodo
Os parentes ao seu modo
Correm comigo pro SUS
Na segunda é depressão
Tá na moda os sem noção
Minha geração é assim
Vou pra psicologia
Mas não era o que eu queria
Ninguém tem pena de mim
Me disse um psiquiatra
Antiquado e diplomata
Sujeito meio sem tato
Que a gente aumentava as filas
E fechava as escotilhas
Dos que precisam de fato
Se me deixarem sem jeito
Sonegarem meu direito
Posso dar cabo de mim
Me corto num desafio
Fico doido e me esvazio
Meus heróis fizeram assim
Mas hoje está diferente
Na rua tem muita gente
Quero andar de patinete
Vou ali pagar a conta
Senão a rede não monta
Eu não vivo sem internet
Ouvindo aquela conversa
Pensei comigo sem pressa
Olha que situação
Eu brincava de carrinho
E nadava no Corguinho
Respeitava o ancião
Era lápis e papel
No parquinho carrossel
Estilingue e baladeira
Colhi algodão aos doze
Quando cheguei aos catorze
Já arrancava macaxeira
Mas nada parece igual
Cada dia traz seu mal
E batalha quem merece
Do meu ideal não solto
Ele me falou eu volto
Lhe respondi, num carece.
FIM